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segunda-feira, 28 de agosto de 2023

AUTISMO COMO  UM PARADIGMA ACADÊMICO


| TYLER COWEN | 13 de julho de 2009 | Tradução: Argemiro de Paula Garcia Filho |

Se você pensar em termos de História, talvez imagine que as faculdades e universidades americanas nunca tenham contribuído para o discurso racista. Mas Princeton e muitas outras instituições mantiveram de fora judeus, e defesas “acadêmicas” da escravidão, segregação e eugenia foram comuns até que mudanças sociais mais amplas tornaram tais pontos de vista inaceitáveis.

A triste verdade é que ideologias desumanizantes permanecem conosco na universidade moderna, embora com formas muito diferentes. Os principais exemplos incluem as inaceitáveis maneiras com que às vezes se fala e pensa sobre o espectro autista. Há alguns anos, Michael L. Ganz, que ensina na Escola de Saúde Pública de Harvard, publicou um ensaio intitulado “Costs of Autism in the United States” (Custos do autismo nos Estados Unidos). Em nenhuma parte o ensaio avalia se as pessoas autistas trouxeram algum benefício à raça humana. Você pensaria em um ensaio equivalente, intitulado: “Custos dos nativos americanos”? Ganz pode pensar que o autismo é estritamente uma doença, mas nunca menciona ou refuta o fato de que um grande número de autistas rejeita essa visão e a considera ofensiva.

David Bainbridge é um anatomista veterinário da Universidade de Cambridge. Em 2008, publicou um livro pela Editora da Universidade de Harvard, “Beyond the Zonules of Zinn: A Fantastic Journey Through Your Brain” (Além das zônulas de Zinn: uma fantástica jornada através de seu cérebro). No livro, defende que aos autistas falta a qualidade da precaução humana, e comparou suas faculdades cognitivas desfavoravelmente às de macacos com lesões no cérebro. Deborah R. Barnbaum, filósofa da Universidade do Estado de Kent, escreveu um livro ironicamente intitulado “The Ethics of Autism”, Indiana University Press, 2008 (A ética do autismo) em que pondera as implicações filosóficas do suposto fato de os autistas não poderem compreender a vida mental de outras pessoas, ainda que este resultado não se sustente experimentalmente e possa ser igualmente refutado por uma simples conversa com uma pessoa autista.

A questão não é focalizar a culpa nesses indivíduos em particular, porque estão afogados em idéias, atitudes e pressupostos comuns a uma estrutura maior. É perfeitamente possível que todos esses escritores sejam “gente boa” no sentido usual do termo, mas eles não sentem nenhum mal-estar ou hesitação em pintar tais retratos de outros seres humanos. A triste verdade é que, até que nós estejamos muito conscientes das implicações de nossas palavras, é muito fácil escorregar em maus hábitos e numa retórica danosa, mesmo no politicamente correto ano de 2009.

Citei alguns exemplos mais óbvios, mas as polarizações subjacentes estão enraizadas muito mais profundamente. Muitas pessoas nas faculdades estão cientes de como lidar com o autismo (e a síndrome de Asperger - vou me referir em geral ao espectro autista) em seus “programas de necessidades especiais”. A realidade mais complexa é que há muito mais autismo no ensino superior do que a maioria de nós imagina. Não são apenas os “estudantes com necessidades especiais” mas, também, os oradores das turmas, os professores da faculdade e até, às vezes, seus gestores.

Esta última frase não é algum tipo de humor barato sobre as muitas características disfuncionais do ensino superior. O autismo é descrito frequentemente como uma doença ou uma praga, mas quando chega à faculdade ou universidade americanas é, frequentemente, uma vantagem competitiva mais do que um problema a ser resolvido. Uma razão da universidade americana ser tão forte é porque mobiliza eficazmente forças e talentos de pessoas do espectro autista. Apesar de alguma retórica negativa, a realidade é que os autistas são muito bons para as faculdades e as faculdades são muito boas para os autistas.

O economista e Prêmio Nobel Vernon L. Smith, um antigo colega meu, é um exemplo dos mais conhecidos de um grande realizador do espectro autista. Vernon, em Discovery: A Memoir (Descoberta: uma biografia), atribui seu extremo foco, sua atenção ao detalhe e sua erudita persistência a ligação que tem com o espectro autista. Richard Borcherds, vencedor em 1998 da Medalha Fields de Matemática, foi diagnosticado como tendo síndrome de Asperger. Temple Grandin, que ensina Ciência Animal na Universidade do Estado de Colorado, é uma brilhante mulher autista cujas ideias revolucionaram a forma como os matadouros americanos tratam os animais. Há provavelmente muito mais exemplos, embora não reconhecidos. O consagrado pesquisador de autismo Simon Baron-Cohen, da Universidade de Cambridge, argumenta que os grandes realizadores autistas são, de longe, mais comuns do que a maioria das pessoas imagina, sobretudo na Matemática e na Engenharia. Ele ressalta o comportamento sistemático como uma importante habilidade cognitiva dos autistas.

Apesar da retórica comum, a cada ano os especialistas estão nos ensinando mais sobre as capacidades cognitivas do espectro autista. Nos anos 60, a visão comum era que, à exceção de alguns savants, a maioria das pessoas autistas eram incapacitadas intelectualmente (“retardado mental” era o termo mais do que infeliz), e em certa medida esse estereótipo persiste hoje. Mas um crescente número de pesquisadores localiza as

Um breve levantamento mostra que os autistas têm, em média, maior percepção do compasso e outras habilidades musicais; são melhores na observação de detalhes no meio de padrões; têm melhor acuidade visual; enganam-se menos com ilusões de ópticas; têm maior probabilidade de ajustar-se a alguns cânones da racionalidade econômica, resolvem alguns tipos de quebra-cabeças e enigmas a uma taxa muito mais rápida e são menos propensos a ter certos tipos de falsas memórias. Autistas igualmente têm, em graus variados, fortes ou mesmo extremadas habilidades de memorização, execução de operações com códigos e cifras, fazer cálculos de cabeça, mostrando excelência em muitas outras tarefas cognitivas especializadas. Os savants, ainda que sejam excluídos, igualmente apresentam as forças cognitivas encontradas nos autistas mais genericamente. Uma pesquisa recente mostrou, usando métodos conservadores, que cerca de um terço dos autistas podem apresentar habilidades excepcionais ou do tipo “savant”.

As pessoas autistas têm geralmente desejo e talento superiores para montar e organizar a informação. Especialmente quando lhes é dado acesso apropriado a oportunidades e materiais, vivem o ideal do auto-didatismo, frequentemente ao extremo. Em meu novo livro, Create Your Own Economy (Crie sua própria economia), me refiro aos autistas como os “infóvoros” da moderna sociedade e argumento que, em muitas dimensões, nós, como sociedade, estamos trabalhando duro para imitar suas habilidades na organização e processamento da informação. Autismo é um item sobre o qual todo interessado em Educação deveria ler e pensar.

Resulta que a universidade americana é um ambiente especialmente favorável aos autistas. Muitos são desfavorecidos ou ficam oprimidos com o processamento de certos estímulos do mundo exterior e ficam, assim, sujeitos a uma sobrecarga sensorial. Para alguns autistas, isso é debilitante, mas para muitos outros é um problema administrável ou, ao menos, contornável. O resultado é que muitos preferem ambientes estáveis, a possibilidade de escolher seu próprio horário de trabalho ou fazê-lo em casa, e poder trabalhar focalizando-se em um projeto por longos períodos de tempo.

Soa familiar? A faculdade e a universidade modernas são, frequentemente, ideais ou ao menos relativamente boas em fornecer esse tipo de ambiente. Enquanto há uma grande discriminação contra os autistas, a maioria das pessoas das universidades americanas são tão cegas à noção de sua alta realização que um preconceito cancela o outro, para benefício de muitos dos autistas nas universidades.

Da mesma forma, autistas tendem a ser extremamente bons em um conjunto de tarefas cognitivas e marcadamente fracos ou prejudicados em outras; são os beneficiários finais da noção de Adam Smith da divisão de trabalho. A especialização acadêmica facilita que tais pessoas tenham sucesso.

Não quero forçá-lo na direção de estereótipos como o “professor distraído”. Algumas pessoas que se encaixam nesse perfil bem podem estar dentro do espectro autista, mas ele igualmente inclui mulheres bonitas com sorrisos encantadores, gente entusiasmada e extrovertida, pessoas que não conseguem produzir um discurso significativo e aqueles que fazem sozinhos, de memória, discursos em público claros e eficientes. Tony Attwood, um psicólogo australiano com extensa experiência em diagnóstico, acredita que a profissão de ator tem muitos representantes do espectro autista. A questão não é convencer ninguém de nenhum perfil único para autistas, ou substituir velhos estereótipos por novos. Ao contrário, devemos nos manter abertos para aprender que a diversidade autista é maior do que costumamos pensar.

Não há nenhuma dúvida que muitas pessoas autistas têm problemas na vida e são incapazes de atingir posições elevadas ou mesmo disputá-las. Problemas, tais como atipicidades sociais muito óbvias, ansiedade social, ou várias hipersensibilidades sensoriais - encontrados entre muitos, mas de forma alguma em todos os autistas - podem impedi-los de conseguir trabalhos comuns ou melhorar seu status social. Os preconceitos atuais são baseados pelo menos em dois erros. Primeiramente, o autismo é definido muito frequentemente como uma série de prejuízos ou falhas da vida, levando grandes realizadores à exclusão. É mais científico e igualmente mais ético ter uma definição mais ampla do autismo, baseada nos métodos diferenciados e atípicos para processar a informação e em outros marcadores cognitiva e biologicamente definidos. Dessa maneira, não rotulamos os autistas como necessariamente falhos mas, em vez disso, reconhecemos uma grande diversidade de resultados, que inclui seus sucessos.

Em segundo lugar, os autistas diagnosticados são frequentemente aquelas pessoas que encontram os maiores problemas na vida. A maioria de autistas de sucesso nunca aparecem para diagnóstico ou intervenção e muitos deles não têm necessidade ou mesmo consciência dele, ou, mesmo se estão tendo dificuldades, temem o estigma de um diagnóstico. A amostragem comum de autistas, como se encontra em um típico artigo de pesquisa, mostra muito mais problemas e menos sucessos do que seria mais provável caso usasse uma amostra verdadeira da população de autistas. Ou seja, há uma polarização enorme da seleção. A pesquisa sobre o autismo está somente começando a confrontar esse problema.

Também estamos aprendendo que muitos estereótipos sobre autistas são falsos ou pelo menos equivocados. Costuma-se dizer, por exemplo, que autistas não se preocupam com outras pessoas, ou que não sentem emoções genuínas ou empatia. O mais provável é que autistas e não-autistas não se compreendam muito bem. Frequentemente, as pessoas que fazem tais afirmações mostram sua própria falha em mostrar empatia para com autistas ou para reconhecer a riqueza de suas vidas emocionais. Mesmo quando há reconhecimento das suas capacidades cognitivas - mais comumente nos savants – ele vem acompanhado de um clichê impreciso, um retrato de uma personalidade fria, robótica, menos que humana.

A relevância do espectro autista para o ensino superior não diz respeito apenas a indivíduos particulares. A própria natureza do ensino superior mostra o quanto nós, frequentemente sem o saber, acreditamos que os perfis cognitivos dos autistas são um ideal educacional. Na “educação especial” abundam os esforços para ensinar as habilidades dos não-autistas aos autistas, mas, na sala de aula regular, frequentemente fazemos o oposto. Vejo a educação superior (e níveis mais baixos) ensinando as pessoas a serem autistas em muitas de suas habilidades cognitivas básicas. Além disso, algumas características cognitivas chave no autismo são a habilidade, o desejo de processar muita informação através de escalas grandemente diferentes, de minúsculos detalhes a estruturas abrangentes; focalizar e ordenar mentalmente essa informação; um relativamente alto nível de objetividade científica; e a presença de algumas capacidades cognitivas altamente especializadas, mesmo se acompanhados de algumas áreas com baixo desempenho. Um educador pode gostar de muita coisa nessa lista.

Outra maneira de ver a questão é notar que todos os alunos têm necessidades especiais, precisando de muita ajuda. Estudantes não-autistas não representam algum ponto ideal que todos estão se esforçando para alcançar, mas tanto os autistas como os não-autistas estão tentando aprender as habilidades especiais do outro grupo, assim como aperfeiçoar suas próprias habilidades.

No discurso público e acadêmico, não é apenas o entendimento do autismo que está em jogo. O neurodesenvolvimento dos seres humanos segue caminhos variados, sendo o TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) outro exemplo de destaque. Precisamos ser cuidadosos sobre o que rotulamos como uma desordem. Em relação a este, por exemplo, crescem as evidências de que os indivíduos com TDAH conseguem resultados muito bons por padrões sociais normais. O estereótipo da cultura popular de um TDAH (frequentemente "TDA") é de uma pessoa que zapeia freneticamente de um canal ou website para o outro. Uma visão alternativa é que muitos desses indivíduos se adaptam e terminam por usar seu perfil cognitivo para se lançar do aprendizado de um fragmento de informação ao seguinte, terminando por aprender melhor e, talvez, situando-se melhor para lidar também com o mundo social. Similarmente, um estudo descobriu que as pessoas disléxicas se fizeram melhores empreendedores na média, porque são acostumados à ideia de ter que delegar algumas tarefas mais do que tentar gerenciar tudo.

Em muitas áreas da neurodiversidade humana, incluindo o autismo, ainda não sabemos as respostas a muitas perguntas básicas. Não há nem mesmo um acordo nas definições básicas do autismo, ásperguer e conceitos relacionados. Entretanto, aplicamos aos autistas montes de estereótipos e descrições negativas que não sonharíamos em usar para descrever grupos raciais ou étnicos. É tempo de as faculdades e universidades saíram à lutar contra esses preconceitos. O ensino superior precisa ajustar sua retórica à realidade de que é uma opção comum para pessoas autistas.

Ainda estamos procurando as metáforas e a linguagem apropriadas para descrever e explicar a neurodiversidade humana. Por exemplo, avançamos de uma visão do autismo como resultado de "mães-geladeira" - frias, distantes -, como foi mais visivelmente sugerido por Bruno Bettelheim nos anos 1960. Estamos apenas dando os primeiros passos além de uma definição do tipo “série de limitações”. Chamarmos o autismo de “desordem” é sermos humanos e oferecermos simpatia, ajuda, ou é valorizar estereótipos e baixas expectativas, ignorando a variação nos resultados?

Mas se não está correto falar em desordem, quais seriam os termos aceitáveis e qual seria o quadro conceitual a acompanhá-los? A distinção geralmente aceita entre o “alto funcionamento” e o “baixo funcionamento” ignora as grandes variações nas habilidades individuais dos autistas e igualmente parece classificar um grupo de seres humanos como algo inadequado. Quando vamos falar do espectro autista, devemos ser humanos, respeitarmos a diferença e a individualidade humanas, a necessidade de apoio e reconhecermos a diversidade dentro do espectro, tudo isso sem supor que as formas dos não-autistas verem o mundo são sempre as corretas.

O senso comum é que “autismo” diz respeito a crianças doentes e cumpre à comunidade acadêmica ajudar a corrigir esse quadro. Se olharmos os dados, parece fácil encontrar montes de crianças com autismo relativamente severo, ao menos segundo os padrões desse mesmo ponto de vista e, assim, encontrar um número proporcional de adultos autistas. Por exemplo, uma ideia disseminada sugere que os Estados Unidos tenham aproximadamente 500.000 crianças autistas, para uma predominância de uma em cada 150. Isso significaria que os Estados Unidos igualmente teriam 1,5 milhão de adultos autistas. (Esses números são aproximações grosseiras e ainda estão em debate.)

Minha opinião é que os Estados Unidos têm de fato mais de um milhão de adultos autistas. Mas se há tantos, as perguntas óbvias são: “Onde estão? Quem são eles? Estão todos trancados nas instituições?” Fala-se em uma recente “epidemia” de autismo. Mas as medidas epidemiológicas da prevalência do autismo - se considerarmos mudanças baseadas nos critérios diagnósticos, conscientização, disponibilidade de serviços, métodos de pesquisa e assim por diante - não indicam grandes aumentos injustificados. Pode-se argumentar que há um aumento gradual na taxa de autismo, uma vez que as evidências não permitem excluir todas as mudanças (penso ser mais provável que a taxa seja constante ao longo do tempo) mas, ainda assim, a curva seria tão ascendente que, outra vez, uma estimativa apreciável seria mais de um milhão de adultos autistas nos Estados Unidos.

Seria complicado falar ou escrever sobre os autistas que podem estar trabalhando perto de você. Se trabalha em uma faculdade ou universidade, há uma boa chance de estar interagindo com pessoas no espectro autista regularmente. Talvez sua reação seja elaborar uma lista mental de colegas e começar a aplicar-lhes vários estereótipos. Talvez você fique de vigia, na próxima reunião com o reitor, para ver se encontra pessoas com “traços” autistas, e passe a fofocar sobre essas observações com seus amigos. Essa é a natureza humana, mas sugiro uma alternativa. Seja diferente. Questione seus estereótipos. Olhe-se no espelho. Quando tiver feito isso, é provável que se considere mais distante da perfeição e mais dentro de variedades pouco convencionais do que esperava.

Tyler Cowen é professor de Economia na Universidade George Mason, e escreve no New York Times, Money, no blog http://www.marginalrevolution.com e em outras publicações. Este texto foi adaptado de seu novo livro, Create Your Own Economy: The Path to Prosperity in a Disordered World.

FONTE: https://www.chronicle.com/article/autism-as-academic-paradigm/ Disponível em 2011.

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sábado, 14 de setembro de 2013

Abraça apoia a redação de consenso para a meta 4 do PNE

A Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo (Abraça) vem se posicionar com relação à Meta 4 do Plano Nacional de Educação em tramitação no Congresso Nacional e nesse sentido faz as seguintes considerações:

A meta 4 do PNE deve ser orientada pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD) se constituindo em um instrumento que fortaleça a implementação do seu Artigo 24 no sentido de:
  • efetivar o direito à educação sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades;
  • assegurar a construção de um sistema educacional inclusivo em todos os níveis; e,
  • garantir, mais especificamente, que as pessoas com deficiência, incluindo as que estão dentro espectro do autismo, possam ter acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, em igualdade de condições com as demais pessoas.
O termo “preferencialmente” ao longo dos anos vem sendo usado para justificar a exclusão escolar baseada na deficiência e no grau de limitação do aluno, o que se constitui discriminação, proibida pela CDPD. Qualquer texto que venha usar a palavra “preferencialmente” tem que deixar claro que o ensino regular se dá na escola regular, cabendo, quando necessário, às organizações de atendimento especializado o papel complementar através do Atendimento Educacional Especializado (AEE), para apoiar o processo de inclusão.

A proposta original da Meta 4, aprovada na CONAE (Conferência Nacional da Educação), é a universalização do ensino regular para pessoas com deficiência, que está em plena harmonia com o artigo 24.2 da CDPD, portanto, todo o financiamento público para organizações privadas deve ser no sentido promover um sistema educacional inclusivo, o que deve ficar claro nas estratégias da Meta. Ante o exposto, compreendendo que o diálogo e busca pelo consenso faz parte democracia e entendendo a necessidade de eventuais ajustes no texto, apoiamos a proposta de consenso apresentada pelo Ministério da Educação, que segue anexa.

Atenciosamente,

Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo (Abraça)

É importante a ampla disseminação do texto e a manifestação de apoio à essa proposta junto ao Senador Vital do Rego, relator na Comissão de Constituição e Justiça do Senado ( vital.rego@senador.gov.br ).

Redação de consenso para Meta 4:
    Universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17 (dezessete) anos, com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação o acesso à educação básica, assegurando-lhes o atendimento educacional especializado, preferencialmente na rede regular de ensino, nos termos do artigo 208, inciso III da Constituição Federal e do artigo 24 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência , aprovada por meio do Decreto Legislativo n° 186, de 09 de julho de 2008, com status de Emenda Constitucional e promulgada pelo Decreto n° 6949, de 25 de agosto de 2009.

    4.1) contabilizar, para fins do repasse do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação – FUNDEB, as matrículas dos (as) estudantes da educação regular da rede pública que recebam atendimento educacional especializado complementar e suplementar, sem prejuízo do cômputo dessas matrículas na educação básica regular, e as matrículas efetivadas, conforme o censo escolar mais atualizado, na educação especial oferecida em instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o poder público, com atuação exclusiva na modalidade, nos termos da Lei n° 11.494, de 20 de junho de 2007;

    4.6) garantir a oferta de educação bilíngue, em Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS como primeira língua e na modalidade escrita da Língua Portuguesa como segunda língua, aos alunos surdos e com deficiência auditiva de 0 (zero) a 17 (dezessete) anos, em escolas e classes bilíngues, nos termos do art. 22 do Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e dos arts. 24 e 30 da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, bem como a adoção do Sistema Braille de leitura para cegos e surdocegos;

    4.13) definir, no segundo ano de vigência deste PNE, indicadores de qualidade, política de avaliação e supervisão para o funcionamento de instituições públicas e privadas que prestam atendimento a alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.

    4.16) promover parcerias com instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o Poder Público, visando ampliar condições de apoio ao atendimento escolar integral das pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/ superdotação, matriculadas nas redes públicas de ensino.

    4.17) promover parcerias com instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o Poder Público, visando ampliar oferta de formação continuada e produção de material didático acessível, assim como, serviços de acessibilidade, necessários ao pleno acesso, participação e aprendizagem dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, matriculados na rede pública de ensino.

    4.18) promover parcerias com Instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com o Poder Público a fim de favorecer a participação das famílias e da sociedade na construção do sistema educacional inclusivo.
      Macaé Maria Evaristo
      Secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão

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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A campanha da Federação das APAEs contra educação inclusiva

| Luis Nassif | Luis Nassif online | 21/8/2013 |

O Senado está para votar as metas do Plano Nacional de Educação. A Meta 4 enfatiza o direito de toda criança deficiente de frequentar a escola pública. É ponto central na política de inclusão. Os grandes avanços registrados nos últimos anos - como a de Débora, com Sindrome de Down e que acaba de se formar professora e lançar livro - se devem a essa política de inclusão, que transforma o estudo na escola fundamental como direito da criança, obrigando o sistema de ensino a se preparar para a inclusão.

Os pioneiros das APAEs (como Jô Clemente) defendem a educação inclusiva. Às APAEs caberia o papel essencial de atender aos deficientes sem nenhuma condição de frequentar o ensino fundamental e de, em cada comunidade, dar o apoio técnico à rede básica para acolher os seus meninos.

No entanto, a Federação das APAEs ttem encetado campanha baseada em falsas informações, como a de que a aprovação do PNE significará o fim das APAEs. É informação falsa, que está levando o pânico a milhares de pais de deficientes e centenas de APAEs espalhadas pelo país.

É importante que os voluntários da APAE, pais e amigos de fato dos excepcionais se informem sobre o melhor caminho para as suas crianças.

No início, a procuradora Eugenia Gonzaga, primeira a defender na Justiça o direito das crianças à educação inclusiva. Como represália, a Federação abriu 3.500 ações contra ela, além de espalhar o pânico entre seus associados com a falsa informação de que a educação inclusiva acabaria com as APAEs, deixando as crianças no desamparo.

A proposta do PNEO Fundeb foi criado para estimular a escolarização. E vale para as escolas públicas. O fundo distingue escolarização e educação complementar. Para tanto criou a figura da dupla matrícula: uma para a escolarização, outra para a educação complementar.

Para as APAEs caberia as verbas para educação complementar. Reconhecendo sua importância para as crianças, enquanto as escolas públicas não se aparelhavam aceitou-se que pudessem oferecer escolarização e receber a dupla matrícula.

Os princípios da educação inclusiva foram reconhecidos em 2002, a partir de uma iniciativa do Ministério Público Federal, interpretando a Constituição, de considerar como direito da criança deficiente o acesso à rede fundamental de educação. Em 2006, esse princípio foi aceito pela ONU (Organização das Nações Unidas) em sua Convenção sobre direitos dos deficientes.

Através da sua Meta 4, o Plano Nacional de Educação (PNE) do MEC, em análise no Senado, incorporou os princípios da Convenção da ONU, reconhecendo os direitos das crianças deficientes a serem escolarizadas na rede básica de ensino.

Toda a disputa em torno da Meta 4 do PNE reside no uso da palavra "preferencialmente". A redação aprovada no Senado - seguindo a Convenção da ONU - fala explicitamente que o ensino suplementar será "preferencialmente" na rede fundamental. A Federação da APAE pretende que seja "preferencialmente" em escolas especiais. O que significaria manter a segregação dos deficientes.

Os defensores da educação inclusiva consideram que a mudança na redação da Meta 4 comprometerá todos os esforços em favor da educação inclusiva, tirando da rede fundamental a obrigação de se preparar para receber as crianças deficientes.

Pelo PNE, a partir de 2016 a escolarização será exclusiva da rede fundamental. As APAEs continuarão recebendo a segunda matrícula, mas não oferecerão mais a escolarização. Deverão apoiar suas crianças na escola fundamental, levando sua experiência para a rede básica - e recebendo a segunda matrícula, pelo apoio à educação suplementar. Seu papel de apoio à rede básica será essencial para o sucesso da educação inclusiva.

Vem daí a reação da Federação e a informação de que as APAEs serão fechadas.

No governo federal, o lobby contra a educação inclusiva está sendo conduzido pela Ministra-Chefe da Casa Civil Gleize Hoffmann – provavelmente devido aos seus interesses eleitorais no Paraná, onde as APAEs exercem forte influência política.

Neste momento, o tema está sendo discutido no Senado e no governo.

Link do vídeo: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=YP1fsEgL710

A campanha da Federação das APAEs contra educação inclusiva
http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-campanha-da-federacao-das-apaes-contra-educacao-inclusiva
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domingo, 18 de agosto de 2013

A luta por inclusão continua

Vergonhosamente posicionando-se contra a Lei, alguns familiares de pessoas autistas estão preparando uma “marcha contra Brasília” para tentar suprimir de seus filhos o direito de frequentar as escolas regulares. Alegando que seus filhos autistas enfrentam agressões, humilhação e desrespeito (bullying), preparam-se para exigir do Governo que descumpra a Constituição Federal e lhes permita (des)educar em casa – ou em “escolas especiais”.

Enumerando três grandes e equivocados argumentos, esses pais preferem isolar seus filhos ao invés de lutarem contra o bullying e pela maior capacitação dos profissionais de ensino das escolas regulares. O terceiro argumento apresentado, o de que o comportamento de pessoas autistas é imprevisível, ora... a única forma de ensinar uma criança a administrar seu comportamento é educando-a dentro de um ambiente em que conviva com outras pessoas.

A sociedade não é segmentada. Criarmos escolas excludentes para que nossos filhos autistas nelas cresçam separados do restante da sociedade é traçar-lhes de antemão um futuro de exclusão. É roubar-lhes a oportunidade de tornarem-se cidadãos. Em recente trabalho publicado no livro Síndrome de Asperger e outros Transtornos do Espectro do Autismo de Alto Funcionamento (Camargos Júnior, 2013), minha esposa Mariene e eu apresentamos evidências de que as pessoas autistas que conseguiram se incluir no mercado de trabalho foram aquelas que frequentaram o ensino regular, independente das habilidades que mostravam quando pequenos.

Para piorar, o Governador do Paraná sancionou lei que equipara os centros das Apaes às escolas regulares, como se freqüentar uma escola especial desse à pessoa as mesmas habilidades. Na verdade, ao negar às pessoas com deficiência intelectual ou com autismo o convívio com o restante da sociedade, o que se está fazendo é estigmatizá-las desde a mais tenra infância, dando a elas o status de cidadão dependente, de categoria inferior.

Veja mais:

Pais de crianças autistas são contra filhos em escolas regulares


Familiares de pessoas com autismo estão organizando, para daqui a duas semanas, um grande ato, em Brasília, para pressionar o governo pelo direito de educarem seus filhos em casa ou em instituições específicas. O movimento encontra resistência dentro do próprio universo de pais com filhos autistas. Há associações que defendem que o caminho para a maior socialização é por meio da educação regular.

A divisão veio à tona após a presidente Dilma vetar, na lei que iguala direitos de autistas aos de demais pessoas com deficiência, trecho que deixava aberta a possibilidade de a educação do grupo ser realizada de acordo com necessidades específicas.

"O autismo se manifesta em diferentes graus, o que vai gerar demandas diferentes. Não é possível tratar tudo na mesma normativa", diz Berenice Piana, mãe de um jovem com autismo e uma das principais responsáveis pela aprovação da lei. Entre as alegações dos que apoiam a educação segmentada estão a exposição dos filhos ao bullying, a falta de estrutura e capacitação de professores nas escolas regulares e a imprevisibilidade das ações das crianças, que podem inclusive ser violentas, dentro da sala de aula.

Apaes em todo o país dão fôlego ao pleito de quem defende a educação especial. A instituição é a mais tradicional do país no trato com pessoas com deficiência intelectual tanto em aspectos educacionais como em terapias.

Recursos

Pelo Plano Nacional de Educação, em avaliação no Congresso, instituição nenhuma poderá, a partir de 2016, receber recursos públicos para fornecer ensino exclusivo a grupos com deficiência como autistas, downs ou paralisados cerebrais, como no caso das Apaes.

"O mundo moderno exige toda criança na escola e o governo investiu em leis e procedimentos que levassem o país a esse patamar. Se a criança não puder ir à escola por motivos médicos sérios, a escola deve ir à criança", afirma o psicólogo Manuel Vazquez Gil.

Ele tem um filho com autismo em grau severo e que estuda no ensino regular.

O MEC (Ministério da Educação) defende que é inconstitucional a manutenção das escolas especiais, uma vez que o Brasil é signatário de convenção internacional que determina a educação inclusiva, fornecendo os governos as condições para isso.

"Os pais precisam ter o direito de escolha de onde querem educar seus filhos. Eles são os melhores especialistas, vivem o problema no dia a dia", declara Piana.

Na política de educação inclusiva do MEC estão previstas ações "intersetoriais" para atender os casos mais graves de pessoas com deficiência na escola, que envolvem auxílio de acompanhantes, atenção à saúde e ensino complementar. Os contrários à obrigatoriedade do ensino regular afirmam que, na vida prática, a educação inclusiva não tem efeito para pessoas com autismo em grau severo, que não aprendem à contento e na escola ficam longe de cuidados da família ou de profissionais habilitados. (Folhapress)


Pais de crianças autistas são contra filhos em escolas regulares
| Umuarama Ilustrado | 18/8/2013 |
http://www.ilustrado.com.br/jornal/ExibeNoticia.aspx?NotID=45338

Apoio do Paraná para escolas de Apaes vira lei pioneira no País
| Agência de Notícias do Paraná | 15/08/2013 |
O governador Beto Richa sancionou a lei que institui o programa Todos Iguais Pela Educação, que torna obrigatório que as escolas básicas de Educação Especial tenham os mesmos direitos e recursos que o governo destina às escolas da rede estadual de ensino. A lei foi proposta pelo próprio governador e é pioneira no Brasil.

Sancionada no dia 12 de agosto, a lei 17.656/2013 formaliza e torna permanente uma prática que já vinha acontecendo desde o início deste ano, quando as escolas de Educação Especial, mantidas por Apaes e outras instituições, passaram a integrar a rede pública.

“Com a lei, essa prática passa a se configurar como política pública, ela institucionaliza o tratamento igualitário”, afirma o governador Beto Richa. “Isso quer dizer que as escolas de Educação Especial não ficarão mais dependentes da vontade dos governantes para terem o apoio do governo”, diz Richa.

A presidente da Federação das Apaes do Paraná, Neusa Soares de Sá, comemorou a lei. “Com a sanção, o governador confirma que dentro da política do Estado do Paraná a pessoa com deficiência tem todos os direitos assegurados, assim como o aluno da rede comum de ensino. Agora, realmente somos todos iguais na educação”, afirmou.

O governador ressalta que, com essa medida, o Paraná se coloca em posição oposta à do Governo Federal. O novo texto do Plano Nacional de Educação (PNE), que está em debate no Senado, acaba com o atendimento dos alunos com deficiência em escolas e instituições especiais.

Se aprovado, o PNE torna obrigatória a transferência dos alunos para a escola pública convencional e proíbe, de forma indireta, os repasses públicos para as Apaes e as instituições que atuam na educação especial. “O Paraná, ao contrário, incorporou a educação especial, respeitando as suas características, sem dissolver as instituições”, afirma Richa.

TODOS OS PROGRAMAS – O Paraná possui 413 escolas e instituições, que hoje atentem 42.618 alunos com deficiência, de diferentes idades. Elas agora têm o amparo legal para receber dotação orçamentária do Estado para melhorias e adequações nas instalações físicas e ações pedagógicas. Também fica assegurado que elas recebam todos os demais programas desenvolvidos pelo governo estadual na área da educação, como o transporte escolar, merenda, Brigada Escolar e recursos descentralizados.

“É fundamental que todos, diferentes nas suas necessidades, sejam iguais no direito à educação de qualidade para desenvolver plenamente o seu potencial. Agora, isso é lei no Paraná”, afirma Beto Richa.

Neste primeiro ano, o Programa Todos Iguais pela Educação destina R$ 436 milhões às escolas de educação básica na modalidade educação especial. Os recursos são para investimentos em pessoal como diretores, professores, pedagogos e demais profissionais de educação; para custeio administrativo e infraestrutura, equipamentos, reformas, merenda escolar, além de ônibus para o transporte.

DISCRIMINAÇÃO – O vice-governador e secretário estadual da Educação, Flávio Arns, critica a proposta incluída no novo texto do Plano Nacional de Educação. “Essa proposta é discriminatória e arrogante e, se aprovada, irá comprometer um trabalho de quase 60 anos, que vem sendo desenvolvido com muita seriedade e competência pelas instituições”, afirma ele.

Os representantes das escolas especiais pedem que seja aprovado o texto original da meta quatro do PNE, que sugere que alunos de 4 a 17 anos com necessidades especiais sejam preferencialmente matriculados na rede regular de ensino. A medida, no entanto, garante o suporte público para as escolas especiais. A nova proposta, sugerida pelo senador José Pimentel, prevê a inclusão obrigatória e proíbe, de forma indireta, os repasses públicos para essas entidades.

Apoio do Paraná para escolas de Apaes vira lei pioneira no País
| Agência de Notícias do Paraná | 15/08/2013 |
http://www.aen.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=76101&tit=Apoio-do-Parana-para-escolas-de-Apaes-vira-lei-pioneira-no-Pais



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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Brasileiro é o melhor professor da Flórida com trabalho inclusivo

Um brasileiro que emigrou para os Estados Unidos em 1995 e dá aulas para autistas junto com outras crianças em uma pré-escola pública inclusiva recebeu, no dia 12 de julho, o prêmio de melhor professor do Estado da Flórida e concorre ao título de melhor professor daquele País.

Alexandre Lopes, que tem 43 anos, já foi comissário de bordo da PanAir, de onde saiu em um programa de demissão voluntária, depois dos ataques de 11 de setembro de 2001. Acabou por se dedicar ao ensino, retomando um velho desejo de infância. Sua ideia era se tornar um professor de línguas estrangeiras, mas uma conselheira vocacional sugeriu que fizesse, além do curso de educação, um curso introdutório em educação especial na primeira infância.


Alex está sentado no chão com seu aluno no colo.  Foto de Carla Guarilha.
Alex Lopes com um de seus "aluninhos", na pré-escola Carol City Elementary. Foto: Carla Guarilha.
  Ele conta que se apaixonou pela área e sua professora se apaixonou pelo seu trabalho, recomendando-o para uma bolsa de mestrado na Universidade de Miami. Ele foi aprovado no processo seletivo com bolsa integral e, assim que completou seus créditos e estágios obrigatórios, recebeu o convite para iniciar uma turma de educação inclusiva na Carol City Elementary, onde está desde 2005, com um salário mais baixo do que recebia quando era comissário de bordo, mas desenvolvendo um trabalho reconhecido.

Além do trabalho na pré-escola, Lopes faz doutorado na Universidade Internacional da Flórida, onde também estuda com bolsa integral, e o Projeto Rise, uma iniciativa federal que estimula a formação continuada de professores de escolas com população carente no país.

O processo da premiação começou com uma votação entre os colegas da escola em que trabalha, no condado de Miami-Dale, que tem cerca de 25 mil docentes. Preparou então um material com dezenas de páginas, explicando sua filosofia educacional, motivações e método de ensino.

Alexandre conduz o que é chamado de LEAP (Learning Experience: Alternative Program - Experiência de Aprendizado: Programa Alternativo). Leciona para dois grupos de doze e treze crianças com idades de três a cinco anos, a idade pré-escolar nos Estados Unidos. Parte dos alunos é autista e, como a Carol City Elementary fica em uma região de baixo poder aquisitivo, a maioria dos estudantes pertence a minorias dentro da sociedade americana. Alguns ainda são filhos de imigrantes e não têm o inglês como idioma nativo.

-"É uma inclusão total e irrestrita, da maneira que eu gosto, com alunos deficientes, imigrantes, minorias... Como eu acho que a sociedade deveria ser", conta. Ele diz que sua abordagem é "holística" e afirma que se envolve em todos os aspectos da vida de seus "aluninhos", tanto na parte acadêmica quanto emocional e social. Isso significa incluir todos os membros mais próximos da família no processo escolar, muitos deles ainda vivendo o luto do diagnóstico de autismo.

Aceitando a diversidade

Na sua sala de aula, todos são iguais:


Alex dá aula para as crianças sentadas no chão.  Foto de Carla Guarilha.
O brasileiro Alexandre Lopes, melhor professor da Flórida, dá aula para seus alunos com igualdade e inclusão. Foto: Carla Guarilha.
 -"Eu não diferencio meus alunos. Procuro ser consistente para fazer com que meus alunos com autismo tenham os outros como modelo, e para fazer com que meus outros alunos aceitem todas as diferenças que existem na nossa sociedade", explica Alex, como alunos e colegas de trabalho o chamam. As técnicas variam de acordo com o conteúdo das aulas. Música e dança são elementos que predominam, mas a tecnologia também ajuda os pequenos estudantes a se expressarem.
Entre os equipamentos está uma tela que reproduz, ao toque de um botão, mensagens pré-gravadas na voz dele ou de um estudante. O instrumento é usado pelos alunos autistas para que eles possam comunicar o reconhecimento dos símbolos, um processo que, segundo Lopes, acontece nestas crianças de maneira diferente das demais.

Para aprender a construir palavras, os aluninhos usam blocos de madeira que representam cada letra e os unem e separam para formar sílabas, sempre atentos aos sons das palavras para compreender a relação entre as rimas e a formação das palavras com grafia parecida. "Isso serve para tirar a palavra do abstrato e torná-la uma coisa concreta, o que é muito importante para crianças com deficiência", explica.

Alexandre também digitaliza as páginas de livros, ocultando as frases escritas para reescrever a história a partir das imagens de forma coletva e, assim, conseguir tirar das crianças a linguagem construída durante as demais atividades.

-"Eu tive uma vida muito feliz, de muitas alegrias. Mas as alegrias que eu encontro com o sucesso dos meus alunos não se comparam com nada que eu já experimentei", comemorou Alex, que tem grande admiração pelos pais de alunos com deficiência. "Essas crianças são filhas desses indivíduos, mas elas também são parte da nossa sociedade, é injusto que deixemos esses pais sozinhos com o grande desafio que enfrentam."

Alberto Carvalho, superintendente do condado de Miami-Dale, disse que "o tema da competição desta noite era mágica e Alex estava definitivamente um passo à frente. Ele faz mágica na sua sala de aula todos os dias, compartilhando suas maravilhosas habilidades com crianças com deficiência que se beneficiam da mágica que ele lhes traz".

Assista ao vídeo de Chris Delboni, feito em março de 2012, quando Alex recebu o prêmio de melhor professor do condado, clicando no link abaixo:
Alexandre Lopes, brasileiro radicado em Miami, é escolhido melhor professor do ano de todo condado de Miami-Dade

Com base em artigos publicados no jornal Olhar Direito, no blog Direto de Miami e no Miami Herald:Brasileiro concorre ao prêmio de melhor professor dos EUA


http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?noticia=Brasileiro_concorre_ao_premio_de_melhor_professor_dos_EUA&edt=29&id=269491

Brasileiro é escolhido melhor professor do ano de todo condado de Miami-Dale
http://colunistas.ig.com.br/diretodemiami/2012/03/20/brasileiro-e-escolhido-melhor-professor-do-ano-de-todo-condado-de-miami-dade/

Carol City special needs teacher is Florida Teacher of the Year
http://www.miamiherald.com/2012/07/12/2893348/carol-city-special-needs-teacher.html

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terça-feira, 26 de junho de 2012

Escola de Salvador ganha prêmio orgulho autista



http://www.educacao.ba.gov.br/node/3378
O Colégio Estadual Raphael Serravale, de Salvador, é um dos vencedores nacionais do VII Prêmio Orgulho Autista 2011/2012. A escola e seu diretor, o Professor Ramilton Cordeiro, foram reconhecidos pela iniciativa de incluir pessoas autistas em salas de aula do ensino regular. A entrega acontece nesta quarta-feira (20), em Brasília, como parte das comemorações do Dia do Orgulho Autista, celebrado nesta semana.


Escola pública de Salvador vence VII Prêmio Orgulho Autista
http://metro1.com.br/portal/?varSession=noticia&varEditoriaId=22&varId=11242


Colégio é premiado por trabalho com estudantes autistas

| 25/06/2012 | SEC - Assessoria de Comunicação - ASCOM |
http://www.educacao.ba.gov.br/node/3378

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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Documentário Bully estreia nos EUA


Estreia nos cinemas dos Estados Unidos nesta sexta-feira 13 de abril o documentário Bully, que acompanha a luta de cinco famílias contra a epidemia de bullying que assola aquele país.

Inicialmente, o filme  foi censurado com uma classificação de impróprio, devido a que a palavra "fucking" era dita cinco vezes. Em razão disso, o filme foi editado de forma a que pudesse ser classificado para a faixa dos treze anos. Mesmo assim, alguns cinemas, coimo os do circuito do Vale de Santa Clarita decidiram não passá-lo, por acreditar que não se trata de um filme comercial.

Realizado pela Companhia Weinstein, o filme foi premiado no Festival de Cinema Tribeca em 2011 e foi exibido para plateias restritas em Los Angeles e Nova York no dia 30 de março, tendo sido bem recebido pela crítica.

De acordo com o site "Projeto Bully", treze milhões de crianças e jovens serão molestados por colegas este ano, e três milhões faltarão às aulas a cada mês, por não se sentirem seguros na escola.

Marisa Watkins, que tem síndrome de Asperger, acha que "todo mundo deveria assistir a 'Bully', porque mostra em detalhes visuais o que é sofrer 'bullying'", e continua: "penso que os 'bullies' deveriam ver o impacto que têm sobre as crianças".

“I think everyone should see ‘Bully,’ because it shows in graphic detail what it’s like to be bullied, and I think that bullies should see the impact they have on kids,” said Marisa Watkins, who has Asperger’s syndrome, a high-functioning form of autism.

Assista ao trailer clicando aqui. Ou visite o site do Projeto Bullying.

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Professor movido a energia solar

Kevin Crosby é um professor dedicado. Leciona na High School Independence. Quando não está na sala de aula, orienta a Equipe Solar Autista Falcon. Ele explica como a energia solar funciona, usando moinhos de vento e gás carbônico.

Todos seus alunos têm autismo, e enfrentam dificuldades com as habilidades acadêmicas básicas.

Usando a energia solar, Kevin conseguiu envolver seus alunos com a energia solar. Ele conta que "um dos estudantes veio até mim e disse que a energia solar era fascinante. Foi um UEBA!! - isso é uma coisa forte para eles e então, pensei que eles podiam ensinar isso para as outras crianças!"

Assista ao vídeo aqui.

Real Hero: Kevin Crosby
The Autism News - 11 April, 2012 -

17 News continues our salute to this year’s Red Cross Real Heroes, with a local high school teacher who is changing the lives of autistic students with the help of solar energy. But, it’s not just the power of the sun that inspires his students.

Kevin Crosby is a special education teacher at Independence High School. When he’s not in the classroom, Crosby is leading the Falcon Autistic Solar Team. Crosby explains how solar energy works, using windmills and carbon dioxide.

But, behind Crosby’s experiments and students, lies a common disorder that cripples their social skills. Every student suffers from autism. Each one suffers from a variety of developmental disabilities and struggles with basic academic skills.

Through solar energy, Crosby actively engages his students about the power of the sun. “One of the students came up to me and said that solar activity was mind blowing. It was like wow, this was powerful to them and that’s when I got the idea that they can teach this to other kids,” explained Crosby.

Real Hero: Kevin Crosby
The Autism News - 11 April, 2012 -

http://theautismnews.com/2012/04/11/real-hero-kevin-crosby/

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terça-feira, 27 de março de 2012

Justiça proíbe escola de cobrar taxa extra para aluno autista

| De Fato | 25/03/2012 |
Justiça mineira proibiu uma tradicional escola de Itabira, na região Central, de cobrar adicional para aceitar a matrícula de um aluno de 7 anos com deficiência cognitiva. Além da mensalidade de R$ 458 cobrada na turma do 2º ano do ensino fundamental, os pais teriam de pagar uma taxa anual de R$ 7.635.

A exigência partiu da Fundação Itabirana Difusora de Ensino (Fide), em atividade há 50 anos. Em 2010, a instituição passou a cobrar uma sobretaxa dos pais da criança, justificando que o dinheiro era necessário para custear a prestação dos serviços educacionais especiais. A família vinha arcando com a despesa, até que, neste ano, teve de assinar o "Contrato Aditivo de Ajuste Econômico Pedagógico", que obrigou o pagamento integral de uma monitora para acompanhar o aluno no colégio.

O juiz da Vara da Infância e da Juventude de Itabira, Pedro Camara Raposo Lopes, considerou a cobrança abusiva e uma afronta à igualdade de condições para o acesso e permanência do aluno na escola. "A presença de um portador de necessidades especiais no corpo discente é, para além de um encargo, um privilégio para o educandário e seus clientes, que, no limite, devem participar do custeio das despesas decorrentes de tal privilégio mediante rateio nas mensalidades escolares", declarou o juiz em sua decisão, proferida na última quarta-feira.

Por enquanto, Lopes julgou a liminar impetrada pelo Ministério Público Estadual (MPE), que exigiu a suspensão imediata da cobrança por parte da Fide. Já a sentença sobre o mérito da ação está prevista para sair em até 30 dias.

Enquanto não há uma decisão final, o garoto, que tem transtorno invasivo de desenvolvimento, uma espécie de autismo, continua a frequentar as aulas. A família alegou ao MPE que não tem condições financeiras de arcar com a taxa extra e que mantém o filho na escola por ele já estar adaptado ao ambiente e aos colegas.

Para o juiz, não existe uma lei específica que proíba a cobrança da taxa extra, porém, explica ele, há um conjunto de leis contrárias à atitude da escola. A Constituição, nos artigos 206 e 227, garante direitos iguais no acesso e na permanência na escola a todo cidadão. "As escolas particulares, embora com fins econômicos, têm de seguir a educação inclusiva, regida por normas gerais da educação nacional", disse Lopes.

Outro lado

A Fide informou que só vai se manifestar sobre o caso na segunda-feira. De acordo com a secretaria do colégio, há outros alunos com deficiência na escola, mas a taxa só é cobrada do garoto em questão por ele exigir mais cuidados.

O que disseram os pais

Eles foram procurados para falar sobre o assunto, mas disseram, por meio do Conselho Tutelar de Itabira, que aguardam a decisão final da Justiça para se manifestarem. Eles afirmaram ao conselho ter medo de a criança sofrer discriminação caso eles venham a se expor.

A deficiência

O transtorno invasivo do desenvolvimento é uma deficiência no sistema nervoso que afeta o aspecto psicológico e a coordenação motora, prejudicando a interação social. Há cinco tipos de transtornos, entre eles, o autismo.

Convencionais

Falta preparo aos colégios, diz coordenadora da Apae

Em Minas, 84.496 alunos com deficiência estão matriculados na rede estadual de ensino, de acordo como Censo Escolar do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), de 2011. Desses, 56% estão nas escolas comuns de ensino regular e 44% estudam em unidades especiais.

A psicóloga France Jane Elias Leandro, coordenadora de autismo da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Itabira, acredita que as instituições de ensino convencionais estão despreparadas para receber os alunos com deficiência, ao contrário das entidades especiais, que têm equipes preparadas, além de técnicas e materiais didáticos diferenciados. "O ambiente educacional adequado para esses alunos é aquele que favorece a qualidade de vida. E a escola regular comum ainda não consegue garantir isso", afirma.

Justiça proíbe escola particular de Itabira de cobrar taxa extra para aluno especial
http://www.defatoonline.com.br/noticias/ultimas/?IdNoticia=22427


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Liminar: aluno autista é privilégio para a escola

Aluno com necessidades especiais é privilégio para a escola
| Espaço Vital | 23/03/2012 |

Liminar - Portador de Necessidades Especiais - Cobranças - Escola Particular
| Blog do Juiz Raposo Lopes | 24/3/2012 |


Numa decisão proferida em comarca do interior de Minas Gerais, mas que está fadada a repercussão nacional, o juiz da Vara da Infância e Juventude de Itabira (MG) Pedro Camara Raposo Lopes concedeu anteontem (21) liminar para que uma criança portadora de necessidades especiais (transtorno invasivo de desenvolvimento) frequente as aulas sem necessidade de pagamento de valores adicionais.

O pagamento complementar estava sendo exigido pela Fundação Itabirana Difusora de Ensino (FIDE) para a manutenção de monitores exclusivos no atendimento ao infante.

O mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público argumentou que a frequência do aluno portador de necessidades especiais seria "vantajosa aos demais educandos, ao trazer, para dentro da vivência escolar, a realidade cotidiana, incutindo o espírito da cidadania e da igualdade".

O menor G.S.F.S., sete de idade, é aluno do educandário desde 2008. A partir de 2009, passou a entidade a lhe cobrar uma sobretaxa a título de prestação dos serviços educacionais especiais de que necessita. Agora em 2012, a instituição passou a exigir "o custeio integral para a contratação de monitora que o atenda diretamente, auxiliando-o na alimentação, higiene e outras atividades rotineiras".

O juiz Pedro Camara afirma na decisão que "sendo a escola um microcosmo da sociedade plural e aberta, que visa a preparar os educandos para a harmônica vida em comunidade, a presença de um portador de necessidades especiais no corpo discente é - para além de um encargo - um privilégio para o educandário e seus clientes que, no limite, devem participar do custeio das despesas decorrentes de tal privilégio mediante rateio nas mensalidades escolares".

Além de mencionar a legislação especial aplicável ao caso, entendeu o magistrado que o aluno é "um consumidor especial, mas merecedor de toda tessitura protetiva da Lei nº 8.078, de 1990". Para o juiz, condicionar a permanência do aluno a pagamento complementar constitui prática abusiva. (Proc. nº 0317.12.002438-3).

Reproduzido do site Espaço Vital:
Presença de aluno com necessidades especiais é privilégio para a escola
http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=26823


Leia a decisão:
DECISÃO (23.03.12) Processo nº 0317.12.002438-3
http://www.espacovital.com.br/noticia_complemento_ler.php?id=2613¬icia_id=26823


Blog do Juiz Raposo Lopes:
http://raposolopes.blogspot.com.br/2012/03/liminar-portador-de-necessidades.html


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terça-feira, 20 de março de 2012

Brasileiro é escolhido melhor professor do ano de todo condado de Miami-Dade

| Carla Guarilha | iG, via Tribuna da Bahia | 20/3/2012 |


Um brasileiro está fazendo história nos EUA com um projeto de inclusão em escolas: Alexandre Lopes recebeu o prêmio de Melhor Professor do Ano de Miami-Dade.

Ele foi escolhido entre 24 mil professores de todas as escolas públicas do condado. O processo de seleção é longo e incorpora diversos aspectos do professor, fora e dentro da sala de aula, desde o seu método de ensino à filosofia e politica educacional.

“É um orgulho, uma honra muito, muito grande deles terem escolhido neste país um brasileiro nascido e criado no Brasil”, diz ele. “Foi um processo intenso de seleção. “Não foi só pré-escola, não foi só no departamento de crianças especiais, não foi só entre os latinos. Eu competi em termos de igualdade com todos os professores daqui”.

Lopes ganhou um Toyota novinho, US$5.500 e uma bolsa de estudos na Nova University – que ele abriu mão pois já está cursando o doutorado na Florida International University.

Mas para ele, o mais importante foi receber o troféu, que simboliza o reconhecimento do seu trabalho. E as homenagens não param. Hoje, Alexandre vai receber uma homenagem de Bárbara J. Jordan, representante de um dos condados de Miami-Dade.

“Levou um bom tempo para conseguir o respeito pelo que eu faço, e acho que foi muito importante ganhar esse titulo, não só por mim mas, por todos os outros professores que trabalham na pré-escola”, diz Lopes emocionado.

Hoje aos 43 anos, o carioca é, agora, o porta-voz de educação de todo o condado de Miami-Dade. O próximo passo é o prêmio estadual com mais 71 concorrentes. Se ganhar, entra como finalista ao prêmio nacional, que será anunciado no inicio de 2013.

Seu programa de inclusão é composto de dois grupos diários de 12 crianças, de 3 a 5 anos – um de manhã e outro no inicio da tarde. Em cada grupo, há oito que exibem desenvolvimento regular da idade e quatro com algum tipo de desordem que compromete o desenvolvimento, como, por exemplo, o autismo.

“As crianças com autismo estão integradas a um ambiente onde elas tem a capacidade de interagir socialmente com crianças fora do espectro autista”, diz ele. “É uma sala de aula normal, onde temos alunos com autismo e alunos sem autismo. Não são diferenciados em absolutamente nada”.

Numa rotina extremamente bem estruturada, Lopes, apaixonado pela música – e um estudioso de piano desde cedo, usa a sonoridade e a melodia como técnicas de ensino – na comunicação, compreensão e aprendizado de palavras e respeito mútuo.

Na hora que entram na sala de aula, as crianças dão as mãos e formam uma roda, cantando, “we are glad you are here. Hello to you and me” (“estamos felizes por estarem aqui. Olá para você e para mim”), fazendo com que todos se sintam bem-vindos e unidos. Lopes usa tambores e canções para ensinar conceitos, como tolerância e o controle emocional: “When you are mad, take a deep breath and relax” (“quando está bravo, respira fundo e relaxa”). (Veja vídeo no fim da coluna.)

“O que enfatizamos aqui, que de repente não é tão enfatizado em outras salas de aula, — mas que na minha opinião deveria ser enfatizado em todos os lugares — é o ensino da interação social: como lidar com uma pessoa, pegar sua atenção, olhar no olho daquela pessoa, chamá-la pelo nome”, diz o carioca, que atribui parte do seu sucesso ao fato de ser brasileiro – não só pela sua musicalidade mas pela forma que se relaciona com as pessoas.

“Eu acho que faço com que cada um se sinta especial, e isso é importante”, diz ele. “Eu acho que o brasileiro tem isso, quando quer, de realmente mostrar ao mundo do que ele é capaz”.

Lopes nunca se imaginou trabalhando na área de educação. Nascido e criado em Petrópolis, o carioca se formou em comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e trabalhava em companhias aéreas. Sempre gostou muito de viajar, e em 1995, se mudou para Miami. Aqui, como comissário de bordo, na época pela United Airlines, fazia rotas para a América Latina e servia como intérprete de português e espanhol. Com os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, as companhias aéreas tiveram muitos problemas financeiros, e a United ofereceu um pacote de benefícios para quem se afastasse. Lopes aceitou imediatamente, e retomou os estudos. Validou em Miami seu diploma do Brasil e começou mestrado em “Educação Especial” na Universidade de Miami, com foco em crianças autistas, rumo a um trabalho sério que, está rendendo frutos.

Publicada: 20/03/2012 10:16| Atualizada: 20/03/2012 10:13

Brasileiro é escolhido melhor professor do ano de todo condado de Miami-Dade
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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Escola indenizará por negar matrícula a estudante com deficiência

| 5/10/2011 | Enviado para a lista de discussão autismo@yahoogrupos.com.br por Renata Bonotto |

O Instituto Metodista de Educação e Cultura (IMEC), de Porto Alegre, terá de pagar indenização de R$ 25 mil para estudante com deficiência. Após cursar todo o ensino fundamental no Colégio Americano, ele não conseguiu se matricular no ensino médio.
Em 1º Grau, O Juiz Flavio Mendes Rabello determinou o pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 15 mil. Já no TJRS, em sede de apelação, a 5ª Câmara Cível aumentou o valor da indenização para R$ 25 mil.

Caso

Em dezembro de 2005, o autor concluiu a 8ª série, participando da formatura com os demais colegas. Porém, foi surpreendido com a negativa de matrícula no ensino médio, sob o argumento de que não seria mais possível prosseguir nos estudos considerando as suas deficiências.

Até conseguir uma liminar na Justiça para a realização da matrícula, o estudante ficou três meses sem frequentar as aulas.

Os pais do estudante decidiram ingressar com ação de indenização por danos morais e extrapatrimoniais.

Sentença


O processo tramitou na 16ª Vara Cível do Foro Central de Porto Alegre. O Juiz de Direito Flavio Mendes Rabello condenou o Colégio ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 15 mil, corrigidos pelo IGP-M e acrescidos de juro de mora de 1% ao mês.

Houve recurso da decisão.

Apelação

Na 5ª Câmara Cível do TJRS, o processo teve como relator o Desembargador Gelson Rolim Stocker. O magistrado determinou a majoração da indenização por danos morais e extrapatrimoniais para R$ 25 mil.

Em sua argumentação, o Desembargador afirmou que o autor da ação teve sua matrícula negada pelo Colégio Americano por ser portador de necessidades especiais, privando-se de frequentar as aulas, sofrendo ato de discriminação e preconceito, ocasião que ficou evidenciado o constrangimento e abalo moral.

O autor é aluno do Colégio Americano desde a 1ª série, realizando provas e tarefas e tendo aprovação até concluir a 8ª série. Ademais, o convívio com os colegas e professores é uma forma de inserção social necessária à evolução e capacitação do autor, destacou o magistrado.

Participaram do julgamento, além do Desembargador relator, os Desembargadores Jorge Luiz Lopes do Canto e Isabel Dias Almeida.

Apelação nº 70039492129


Escola indenizará por negar matrícula a estudante com deficiência
http://blogestudandoodireito.dihitt.com.br/noticia/correio-forense--escola-indenizara-por-negar-matricula-a-estudante-com-deficiencia--direito-civil


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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Como se sentem os áspis?

A psicóloga portuguesa Adriana Campos, em artigo publicado no site Educare.pt, discute alguns nos aspectos de como um jovem áspi (pessoa com síndrome de Asperger) pode vir a se sentir, confuso no mundo dos neurotípicos.

Em Portugal, estima-se que 30 mil pessoas apresentam síndrome de Asperger. Compreender os sentimentos dos "áspis" pode ajudar imenso quem convive diariamente com eles e quem, por dever profissional, deve contribuir para potenciar ao máximo o seu desenvolvimento.

Como se sentem os aspis?
| Adriana Campos | Educare | 20-07-2011 |

http://www.educare.pt/educare/Detail.aspx?contentid=90393CD59D8BF36DE0400A0AB8001D4D&channelid=FB1E151EFC02264FAA334EBDFF922FA2&schemaid&opsel=2

Leia também o artigo da mesma autora:

Asperger: Será?
| Adriana Campos | Educare | 22-06-2011 |

http://www.educare.pt/educare/Opiniao.Artigo.aspx?contentid=90393CD58B1CF36DE0400A0AB8001D4D&channelid=90393CD58B1CF36DE0400A0AB8001D4D&schemaid=&opsel=2

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terça-feira, 24 de maio de 2011

Inclusão escolar de crianças com autismo

"É preciso enxergar as pessoas com deficiência como diversas em vez de desviantes"

Marise Suplino discute as condições necessárias para se desenvolver uma nova ideia de aluno e consequentemente, construir um paradigma de inclusão escolar dos alunos autistas.

Inclusão escolar de crianças com autismo
Maryse Suplino
http://inclusaobrasil.blogspot.com/2008/08/incluso-escolar-de-alunos-com-autismo.html

Inclusão escolar de crianças com autismo
Maryse Suplino
http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi¶metro=17781

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quarta-feira, 23 de março de 2011

Palestra no Rio: tecnologia inclusiva

O Instituto Nacional de Tecnologia do Ministério de Ciência e Tecnologia (INT/MCT), através da sua área de Gestão da Produção, integra projeto de inclusão de crianças com autismo na Rede Pública de Ensino, coordenado pela Universidade Federal Fluminense (UFF) com participação da Secretaria Municipal de Educação de São João de Meriti (RJ). O trabalho será mostrado ao público, inaugurando o ciclo Terças Tecnológicas 2011, no próximo dia 29, às 14h30.

As área de Gestão da Produção e de Desenho Industrial do Instituto atuam conjuntamente na criação de brinquedos educativos voltados para esse segmento da população. O engenheiro de produção Saul Mizhari explica que as cores, formas, texturas e sequências lógicas, entre outras características dos projetos, facilitam a ativação do sistema perceptivo-motor da criança.

O Instituto ainda atua, com esse projeto, na implementação de tecnologias de gestão, o que resultou na elaboração do manual de planejamento estratégico da Escola Profª. Mariza Azevedo Catarino. A escola, que hoje atende a mais de 70 crianças com autismo, tem concentrado esforços nesse atendimento especializado que se originou no Programa de Atendimento ao Autismo, inicialmente atendendo a apenas cinco alunos identificados com a deficiência.

TERÇAS TECNOLÓGICAS - 2011

Tema:
Tecnologias para inclusão do aluno com autismo
Data: 29 de março de 2011
Horário: 14h30 às 16h30
Local: Auditório Fonseca Costa / Instituto Nacional de Tecnologia (Av. Venezuela, 82 - Praça Mauá - Rio de Janeiro)
Palestrantes: Saul Eliahú Mizrahi e Janete Rocha Cícero (Divisão de Gestão da Produção/INT); Dayse Serra (professora adjunta de Educação Especial e Inclusiva do Instituto de Educação da Universidade Federal Fluminense); Simone Machado de Oliveira, Denise Tavares e Magda Fernandes de Carvalho (diretora e professoras da Escola Municipal Especial Professora Mariza Azevedo Catarino/Secretaria de Educação de São João de Meriti)
Inscrições gratuitas: dcom@int.gov.br

Para saber mais:

Tecnologias favorecem inclusão do aluno com autismo
http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/330024.html


Dica obtida na Geek:
Tecnologia ajuda o desenvolvimento de crianças com autismo
http://henrique.geek.com.br/posts/15403-tecnologia-ajuda-o-desenvolvimento-de-criancas-com-autismo


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terça-feira, 22 de junho de 2010

24 respostas sobre a inclusão escolar

Revista Nova Escola, Edição Especial nº 8

A Revista Nova Escola, no seu número especial sobre Gestão Escolar, traz importante artigo sobre inclusão escolar, com perguntas e respostas sobre o tema. São dúvidas, por exemplo, sobre como ter certeza de que um aluno com deficiência está apto a frequentar a escola, ou quantos alunos com deficiência podem ser colocados na mesma sala.

As perguntas são divididas em seis temas:
Gestão administrativa
Gestão da aprendizagem
Gestão de equipe
Gestão da comunidade
Gestão do espaço
Gestão de material e suprimentos
Acesse:

24 respostas para as principais dúvidas sobre inclusão
http://tinyurl.com/gestinclui2010jun

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sábado, 22 de maio de 2010

Garoto autista acusado de fazer terrorismo


Shane Finn, um garoto autista de 14 anos, morador de Atlanta, no Estado da Geórgia, EUA, desenhou na folha de prova dois bonequinhos palitos, representando a si mesmo e ao seu professor. Na sua "obra", ele porta um revólver e atira no mestre. O pequeno desenho ainda mostra uma lápide com a tradicional inscrição RIP (rest in peace - descanse em paz). Shane tem o QI estimado em 75 e a idade mental de oito anos, frequenta a oitava série.

Frente ao desenho, que não tem mais do que 3 centímetros, a escola decidiu suspendê-lo e processá-lo por fazer "ameaças terroristas".

Karen Finn, sua mãe, declara que está com o coração partido. Embora não sinta orgulho pelo desenho do filho, explica que este não entende o erro que cometeu, muito menos o porquê da punição. Ela lembra uqe, devido a seu autismo, ele não consegue expressar de maneira adequada suas frustrações e raiva.

A escola não quis comentar o assunto para os jornais, apenas explicando que trabalha com "tolerância zero" na questão da violência contra os professores.

Fica a pergunta: e a violência contra os alunos, como fica?


Criança autista é processada por ameaça terrorista

http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/news/2010/05/15/248657-crianca-autista-e-processada-por-ameaca-terrorista

Shane Finn; Autistic Boy, Felony Terrorism Charges for Stick Figure Drawing (Video)
http://law.rightpundits.com/?p=1615

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Autismo inspira fábula

O autismo de um filho traz à tona muitos sentimentos. No caso de Ana Paula Antunes, de Setúbal (Portugal), despertou-lhe a veia artística.

Sentindo a necessidade de explicar aos colegas de seu filho José Pedro, ela escreveu, na fábula No mundo da lua?... Talvez não... a história de Pedrocas, um menino que não fala, não brinca com os outros e só quer saber de plantas - vive com a cabeça na lua.

Com ilustrações do jovem Afonso Sobral dos Santos, também autista, a história foi publicada na forma de um livro infantil, com o patrocínio da Câmara Municipal de Setúbal, tendo sido lançado no dia 17 de dezembro, na escola EB 2/3 Aranguez.

Blog Anjos do autismo - 9/12/2009
No mundo da lua?... Talvez não...
http://anjosdoautismo.blogspot.com/2009/12/no-mundo-da-lua-talvez-nao.html

Jornal da Madeira - 17/12/2009
Mãe escreveu fábula para explicar autismo do filho aos amigos
http://ultimahora.jornaldamadeira.pt/index.php?/pt/noticias/200912175877/noticias/nacional/mae-escreveu-fabula-para-explicar-autismo-do-filho-aos-amigos.html

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Entrevista com o idealizador da Escola da Ponte

| UOL Educação | Simone Harnik |

Na entrevista "Trabalho há mais de 30 anos com escola que não tem aula, série e prova, e dá certo", o educador português José Pacheco conta sua experiência com a Escola da Ponte, instituição fundada em 1976 em que os alunos aprendem sem sala de aula ou divisão em disciplinas ou turmas.

A melhor escola nas provas nacionais de Portugal não tem aulas, séries, horários ou diretor.

http://educacao.uol.com.br/ultnot/2009/06/30/ult105u8320.jhtm

Enviada por Diva Calles para o grupo Autismo no Brasil.