(Association française pour l'information scientifique)
Apenas em junho de 2009, o jornal francês L'Express [1] publicou vários artigos sobre "le packing", método de contenção com frio usado para tratar distúrbios relacionados ao autismo. Da palavra em inglês para pacote, empacotamento, este método utilizado principalmente por Pierre Delion [2], responsável pelo serviço da psiquiatria da infância e adolescência em Lille, consiste em enrolar a criança até o pescoço em um cobertor de contenção molhado e congelado (pelo menos 10 graus abaixo da temperatura corporal) durante 45 minutos, sob a supervisão de dois psicomotricistas.
Rapidamente a temperatura de sua pele cai de 36 para 33 graus. Inicialmente, a criança fica muito agitada pelo frio mas, gradualmente reaquecida, torna-se mais tranquila (!) para a satisfação dos funcionários. Isto se repete até sete vezes por semana. O packing não é tão questionado pelas autoridades de saúde, que estão mais preocupadas com as práticas abusivas que lhe dão origem, como o uso de toalhas geladas, a duração das sessões intermináveis, os alertas dos pais...
Associações como Léa pour Samy, lutam contra esta prática bárbara que se aproxima da camisa de força que costumava se aplicar aos assim chamados loucos. No Canadá, uma criança autista de nove anos morreu por asfixia depois de ser envolvido dos pés à cabeça com uma coberta terapêutica de 17,5 quilos. A criança pesava 24 quilos. O cobertor foi colocado no abdômen, nos braços, ao longo do corpo, e cobriu o rosto. Havia quatro torres para contê-lo. [3].
"Le packing" surgiu nos Estados Unidos, onde foi virtualmente abandonado. O psiquiatra americano M. A. Woodbury foi quem levou essa técnica para a França, nos anos 1960/70. Ela se enraizou no solo psicanalítico francês. A terapia é individualizada. Cada criança tem, como diz o jargão psicanalítico, um grupo de cuidadores chamado de "constelação de transferência", que se reúne regularmente para a "contratransferência". O professor Peter Delion usa a linguagem simbólica e hermética da psicanálise para justificar o significado desta terapia: "O envelopamento é desenhado para acolher o corpo de um jovem autista que não tem capacidade de se conter. Dá-lhe uma sensação reconfortante de unidade, ao invés de sentir-se ansioso para estar em vários pedaços" [4]. Essa lógica, aqui, não mostra um contrassenso?
Aqueles que acreditavam que na França, enfim, a concepção psicanalítica do autismo tivera seus dias contados, estão longe da verdade. Se as causas do autismo ainda não estão plenamente identificadas, é reconhecido que tem um componente genético. [5] Quais sejam as suas causas, por que tratar essas crianças com métodos violentos e outros pressupostos antiquados baseados em tais pressupostos pseudocientíficos? M'hammed Sajid, presidente da Léa Samy, fica indignado [6]:
-"Até quando vamos tratar os autistas como loucos, na França, enquanto o resto do mundo os reconhece como pessoas com deficiência e necessidade de uma educação adequada?"
Talvez esta questão seja parcialmente respondida em três anos, com a conclusão do ensaio clínico recentemente lançado pelo Ministério da Saúde, se "a ativa ignorância, que tanto mal causou a gerações de famílias" (Jacques Benesteau [7]), em outros termos, a psicanálise, não a frear ainda. Muito tempo, ainda para quem está nessa luta!
[1] L’Express. Slides mostram como a equipe de saúde "empacota" uma criança autista no CHRU de Lille.Le « packing », la camisole glacée des enfants autistes
[2] Pierre Delion colaborou com Elisabeth Roudinesco na resposta ao Livre Noir de la psychanalyse (Livro Negro da psicanálise): Pourquoi tant de haine, anatomie du Livre noir de la psychanalyse (Por que tanto ódio, anatomia do Livro Negro da Psicanálise), Navarin éditeur, 2005. Autor de Le Packing… Érès, novembre 2003. Veja Les arguments des détracteurs du « Livre noir de la psychanalyse », SPS n° 271.
[3] Paperblog, Magazine handicap, 23 juin 2008.
[4] Citação das observações do Professor Pierre Delion ao artigo de Estelle Saget « Autisme, le traitement qui choque » (Autismo, o tratamento que choca) L’Express n° 3024, 18 au 24 juin 2009.
[5] « L’autisme : un pas de plus vers sa connaissance », Science et pseudo-sciences n° 286.
[6] L’Express, artigo citado acima.
[7] Jacques Bénesteau, Mensonges Freudiens, 2002, Mardaga.
http://www.pseudo-sciences.org/spip.php?article1270
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