Argemiro Garcia
Os recentes terremotos e maremotos (ou tsunamis, para quem prefere estrangeirismos) suscitam uma reflexão sobre como a Humanidade tem se relacionado com seu ambiente. Ousadamente, temos avançado onde jamais algum homem fora, para mal parafrasear a Jornada nas Estrelas (Star Trek). Marco Aurélio Weissheimer, em seu blog, discute essas questões, comparando como o grande terremoto de Lisboa, de 1755, trouxe maior contribuição à Filosofia do que todas estas recentes catástrofes.
Esta postura se estende a todos os ramos da atuação humana. Queremos modificar toda a Natureza, ajustá-la, estourar seus limites e torná-la humanizada, com cara de gente, feições de "propaganda de margarina". Vamos morar na boca do vulcão, na borda das placas tectônicas e ali construímos usinas nucleares. Queremos que a Natureza, ajoelhada, respeite nossas regras. Não tentamos entendê-la e nos adaptar a ela.
Em relação à Medicina, queremos prolongar indefinidamente a vida; queremos modificar, ajustar as pessoas fora das normas, fazê-las "normais", curar mesmo o que não tem por que ser curado. Por exemplo, as pessoas autistas. A maioria das famílias preferem ver o autismo de seus filhos como um defeito a ser consertado, uma doença a ser curada. Prefiro vê-lo como um jeito de ser que pede uma forma especial de ensino, uma particular educação que lhe permita viver junto à sociedade humana do jeito que ele é. Meu pai chamava as pessoas sem educação de broncas, mostrando o personagem de Ronald Golias, o Carlos Bronco di Nossauro, como um exemplo de sua tese. Uma pessoa deseducada é uma pedra bruta. Compete à família e à sociedade como um todo contribuir para que cada criança se torne um cidadão completo, capaz de contribuir de alguma forma para o bem comum.
Isso pode e deve acontecer também com as pessoas autistas. Ao contrário do que se acredita, elas não têm um mundo próprio no qual vivem. Elas sentem dificuldades para compreender o mundo que as cerca. Possuem limitações no sistema nervoso que lhes dificulta entender e integrar as informações de seus órgãos sensoriais - visão, audição, olfato, equilíbrio, tato, paladar. Sem essa integração, fica difícil construir um modelo consistente do mundo que as cerca. As palavras ficam sem sentido; os odores ficam insuportáveis, a textura dos alimentos lhes causam náuseas. A própria dor é uma sensação desconhecida. Ajudá-las a dar significado ao mundo é a primeira obrigação de sua fmaília e de seus professores.
Acreditar que encontraremos o Doutor Caramujo e sua pílula milagrosa é protelar o verdadeiro trabalho que deve ser dedicado a elas: ensinar-lhes a viver, como se faz com qualquer criança. Desacreditar na sua capacidade de se construir como um ser humando completo, com seu próprio jeito de ser, é negar-lhes o direito de ser humanos como são.
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