Aspies for Freedom (Aspies pela Liberdade) é um grupo de
pessoas autistas que se organizou em torno da idéia de que precisam defender os
seus direitos. Surgido em junho de 2004, com a primeira campanha “Autistic Pride
Day” (Dia do Orgulho Autista), no seu site esclarece quais são seus objetivos.
Segue abaixo a tradução do texto de apresentação:
Nossos objetivos são:
Com serviços de apoio adequados, todas as pessoas autistas
são capazes de ter uma vida significativa e gratificante. No entanto, a cobertura
negativa da mídia e uma campanha deliberada de vitimização têm criado no
público a opinião de que autismo é uma "tragédia" e que as pessoas
com autismo não têm esperança de conseguir qualquer coisa. Assim, a
disponibilidade de um teste pré-natal levaria a maioria das pessoas autistas a
serem abortadas.
Um estudo recente mostrou que 91 a 93% dos fetos com teste
positivo para Síndrome de Down são abortados. Como o autismo é genético, se
estes números foram semelhantes em um teste pré-natal para autismo, a população
autista será dizimada e a cultura autista, destruída.
Além disso, a maioria da captação de recursos para o autismo
está voltada atualmente para a pesquisa genética. Se esse dinheiro fosse
canalizado para os serviços de apoio, as pessoas autistas teriam uma chance
muito maior de viver uma vida produtiva.
Por isso, os Aspies For Freedom são contra o financiamento
de pesquisas genéticas que levem a um teste pré-natal.
Devido à percepção pública do autismo, um grande número de
tratamentos antiéticos tornaram-se bastante comum. Estes incluem tratamentos
fisicamente prejudiciais (tais como terapias comportamentais aversivas ou
contenções), tratamentos mentais nocivos (como 20 a 40 horas semanais de ABA,
restrição de estereotipias não-prejudiciais e outros mecanismos de combate ao
autismo), terapias não aprovados pela Medicina e perigosas, com base em teorias
desacreditadas ou crenças religiosas (como quelação ou exorcismo) e terapias
que seriam chamadas de "tortura", se fossem usados em crianças
não-autistas (como dispositivos "comportamentais" de eletrochoque).
Os Aspies For Freedom defendem a suspensão de todas as
terapias física ou mentalmente nocivas.
Há vários rótulos usados para pessoas em todo o espectro
autista. Estes incluem Autismo de “Alto Funcionamento” Autismo de “Baixo
Funcionamento”, Síndrome de Asperger e TID-SOE. As diferenças entre esses
rótulos são em muitos casos bastante nebulosas, muitas vezes baseadas no
desenvolvimento infantil, tendo pouca influência sobre a natureza do adulto
autista.
Uma das maiores barreiras de acesso a serviços de apoio é a oferta
de suporte com base em subgrupos, em vez de avaliar as necessidades do
indivíduo. Isto significa que, por exemplo, alguém com autismo de "alto
funcionamento" pode ver negado um necessário apoio na residência devido ao
seu rótulo, ou alguém com autismo de "baixo funcionamento" pode ser
considerado inapto para atividades de que é perfeitamente capaz.
O espectro autista cobre uma gama muito ampla de pessoas, e
estas nem sempre se encaixam perfeitamente nos grupos definidos. Muitas vezes,
estes grupos são barreiras à compreensão ao invés de ferramentas para o
entendimento. Essencialmente, todas as pessoas nos grupos acima fazem parte do
espectro autista e a generalização de grupos específicos dentro do espectro é
contraproducente. A avaliação da personalidade e das necessidades de uma pessoa
no espectro deve ser olhada de forma individual, em vez de basear-se em um
rótulo.
Assim, os Aspies for Freedom apóiam a ideia de um espectro do
autismo, e defendem a desenfatização das diferenças entre os rótulos do
espectro autista.
Parte do problema com a visão "autismo-é-tragédia"
é carregar a idéia de que a pessoa é separável do autismo, e que há uma pessoa
"normal" presa "dentro" do autismo.
Ser autista é algo que influencia cada elemento de que uma
pessoa é feita - dos interesses que temos e os sistemas éticos que usamos até a
forma como vemos o mundo e o modo como vivemos nossas vidas. Dessa forma, o
autismo é parte de quem somos.
"Curar" alguém do autismo seria como arrancar a
pessoa daquilo que ela é e substituí-la por outra pessoa.
Além disso, é improvável que o financiamento para a
investigação de uma "cura" venha a produzir um resultado. Nesse meio
tempo, os serviços de apoio para as pessoas autistas são subfinanciados. Esse
dinheiro seria muito melhor usado para ajudar as pessoas autistas que existem.
A idéia da cura também influencia culturalmente o tratamento
das pessoas autistas. Muitos pais se concentram na idéia de encontrar uma cura
para o seu filho e podem negligenciar a ajuda real e o apoio ao processo. Além
disso, ensinar as crianças que elas estão "quebradas" e precisam ser
"consertadas" tem consequências para a sua saúde mental a longo
prazo.
Aspies for Freedom se opõe à idéia de uma "cura"
para o autismo, considera que uma cura real seria antiética e que o mito atual
da cura é prejudicial.
Um dos problemas com o estado atual do tratamento do autismo
é que há pouco em termos de controle de qualidade e, muitas vezes, um
tratamento sugerido é iniciado sem considerar a ética envolvida. Alguns
exemplos de práticas não-éticas incluem o uso de aversivos (por exemplo, aversivos
físicos "comportamentalistas", como a negação de alimentos e a
provocação deliberada de sobrecargas sensoriais), tempo exagerado (por exemplo,
muitas pessoas defendem 40 horas por semana de ABA), tratamentos potencialmente
perigosos (por exemplo, quelação) e foco na "normalização" em vez de apoio
(por exemplo, restringir comportamentos autistas não-prejudiciais, tais como estereotipias).
Aspies For Freedom procuram avaliar as dimensões éticas dos tratamentos
para autismo novos e pré-existentes.
Muitas formas de tratamento são altamente benéficas para
muitas pessoas autistas; por exemplo, terapia da fala e fonoaudiologia, terapia
de integração sensorial, aconselhamento. Além disso, os serviços de apoio podem
ajudar as pessoas a viver vidas mais produtivas, como habitações de emergência,
serviços médicos especializados, serviços de apoio e de emprego.
Aspies for Freedom advogam maior financiamento para serviços
de apoio, e apoiam os esforços de captação de recursos para apoio de base ao
autismo.
A maioria da angariação de fundos para o autismo é atualmente
focada em campanhas de “pena”, o que sugere que o autismo é uma tragédia,
doença ou epidemia que precisa ser interrompida. Infelizmente, este ponto de
vista tem-se propagado através de programas de entrevistas, noticiários e
outras formas de cobertura da mídia.
A técnica mais comum é não mostrar nada além de cenas de
crianças (presumivelmente) autistas durante acessos de raiva, e, em seguida,
cenas de pais reclamando sobre suas vidas. É muito raro ver cenas de uma
criança autista envolvida em atividades comuns e ainda mais raro ver cenas de
um adulto autista.
Esta "trágica" visão do autismo é extremamente
prejudicial para as pessoas autistas, muito além do alcance que os fundos
gerados poderiam justificar. Isso faz com que a discriminação no emprego agrave
o isolamento social e leva alguns pais a desistir de ajudar os seus filhos, preferindo
se agarrar a falsas promessas de cura.
Algumas organizações ainda vão mais longe, usando frases
como "sem alma", "pior do que o câncer" ou "incapaz de
amar". Uma das maiores organizações anti-autistas, Autism Speaks, chegou
até a criar um filme de propaganda em que uma mulher fala sobre o desejo de jogar
a si mesma e seu filho autista de uma ponte. A afirmação foi feita enquanto seu
filho autista estava no mesmo quarto.
Estas campanhas são baseadas em estereótipos, preconceitos e
deturpação deliberada, e precisam ser interrompidas.
Os Aspies For Freedom defendem fim às “campanhas de pena” e o
fim das histórias falsas ou deturpadas na mídia.
Um dos objetivos do site dos Aspies for Freedom é ajudar a
criar uma visão acurada e positiva das pessoas autistas, mostrando as coisas
que realmente fazem e enfatizando histórias positivas sobre grupos e pessoas autistas.
Autistas formam um grupo muito diverso e nossas diferenças são uma parte muito
importante da diversidade humana.
A razão para incluir a palavra "acurada" é que,
embora pessoas autistas tenham conseguido grandes feitos na arte, ciência,
matemática, redação e outras atividades criativas, muitas vezes isso leva ao exagero
de dizer que todos os autistas são gênios – o que tem o efeito colateral de imaginar
que uma pessoa autista precisa ser um gênio para ser considerada um ser humano que
valha a pena.
Outro extremo é o desejo de alguns grupos de atribuir
qualidades místicas para as pessoas autistas, o que tem o efeito colateral de
desumanizá-las.
Há pessoas autistas em toda parte. Existe uma boa chance de
que você trabalhe com ou conheça uma pessoa autista, sem saber. O autismo não é
uma tragédia, ou um efeito colateral de uma genialidade, é uma diferença a ser
valorizada.
Como tal, os Aspies For Freedom tentam destruir estereótipos
e criar uma ideia positiva e realista do que significa ser autista.
Muitos problemas associados ao autismo são causados, ou
agravados, pelo preconceito. A raiz disso é o preconceito por si mesmo - se
lidar apenas com as atuais formas de preconceito que se voltam contra o
autismo, novas formas vão surgir para substituí-las.
Devido a isso, os Aspies for Freedom escolhem se opor a
todas as formas de preconceito e intolerância.
Isso inclui as formas de intolerância relacionadas com a
cultura autista, tais como:
- A idéia de que ser neurotípico (não-autista, ou de outro neurotipo) é "melhor" do que ser autista. (Nota: este não se relaciona com habilidades específicas, apenas com a idéia geral de "melhor".)
- A idéia de que ser autista é "melhor" do que ser neurotípico. (Nota: mais uma vez, não se fala aqui de habilidades específicas, mas na a idéia de "melhor", genericamente.)
- A idéia de que alguns rótulos do espectro autista são aceitáveis, mas outros são tragédias.
- A idéia de que a síndrome de Asperger ou TID-SOE não devem fazerparte do espectro autista.
- A idéia de que as pessoas não têm direito de se auto-identificarem como autistas.
Fonte: http://www.aspiesforfreedom.com/
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