terça-feira, 3 de julho de 2012

Sem paternalismo, diretor investe em ator 'fora do padrão'

"Só uma das mãos não faz o aplauso, só uma boca jamais fará o beijo. Todos juntos, sim, podem formar a imensa risada, que quando for realmente enorme, Deus vai ouvir e nunca mais vai se sentir sozinho."

É no espírito da poesia de Oswaldo Montenegro que o irmão caçula do cantor, Deto, dirige a diversidade na escola de teatro Oficina dos Menestreis.

O espaço tem o mesmo número de turmas de alunos "convencionais" que de alunos "fora do padrão" comum.

São cadeirantes, cegos, pessoas com síndrome de Down, idosos e, há mais de um mês, iniciou-se um grupo com autistas. Todos com temporadas disputadas de apresentações no Teatro Dias Gomes (Vila Mariana, em São Paulo - Rua Domingos de Moraes, 348).

"A história começou em 2003, quando vi uma moça cadeirante em meio ao Carnaval do Rio, linda, sorridente. Na hora propus a ela para fazermos uma turma só de cadeirantes, que deu muito certo", diz Deto Montenegro, 49.

O espaço artístico, afirma o diretor, não é campo de terapias ou assistencialismo.

"Não faço paternalismo. Para subir ao palco, as pessoas precisam ter o que oferecer. É delicado tratar com a diversidade, mas tenho de ter o controle. Tenho muito orgulho de dirigir cego, cadeirante, down, porém, não abro mão da qualidade artística."

Há 21 anos em São Paulo, Deto é carioca, pai de dois filhos e não teve história ligada a causas sociais.

"O segredo de dar certo é o respeito às diferenças entre as pessoas e encontrar o charme que elas possuem. É difícil ter em um aluno regular a espontaneidade de um aluno com down, a carinha de ternura dele. E por aí vai."

A formação do diretor veio do trabalho ao lado do irmão, desde os 18 anos, em shows teatrais. Estreou em Brasília, ao lado de Cássia Eller e Zélia Duncan. Mais tarde, começou a dar aulas, mas, de acordo com Deto, sem compromisso profissional.

"Faço condicionamento artístico das pessoas. Não tenho a pretensão de formar um ator, mas sim de dar as pessoas a chance de desenvolver seu instinto para o teatro", afirma Deto.

SOCIABILIZAÇÃO

A dona de casa Ana Araújo acorda cedo aos domingos. Sai de Itapevi (Grande São Paulo) e pega trem e metrô para levar o filho André, 12, que tem autismo moderado, para fazer parte do grupo de teatro de Deto Montenegro.

"A ideia é excelente. Trabalha com a estima das pessoas e faz com que elas sejam percebidas pelos outros. Usar a arte para sociabilizar é muito interessante. Meu filho está amando", diz a mãe.

O projeto ainda é incipiente e é acompanhado pela psicóloga Tatiane Cristina Ribeiro, que atua com o público autista na USP e na Unifesp.

"Eles estão fazendo um curso que treina suas habilidades como a improvisação, os olhares, as expressões faciais. Não é uma terapia. No final eles serão outras pessoas, em alguma intensidade."

Diretor do grupo, Deto adota a mesma técnica de ensinar da dos outros alunos.

"Procuro trazê-los para o meu mundo, com humildade. Não tenho de dominar o autismo, preciso enquadrá-los no meu método. Todo humano tem seu lado artístico."

Autismo é um transtorno que afeta a sociabilidade, a comunicação e provoca interesse restrito de atenção.

Sem paternalismo, diretor investe em ator 'fora do padrão'
| Jairo Marques | Folha de S. Paulo | 24/06/2012 |
http://f5.folha.uol.com.br/humanos/1109826-sem-paternalismo-diretor-investe-em-ator-fora-do-padrao.shtml
Jornal de Floripa
http://www.jornalfloripa.com.br/brasil/index1.php?pg=verjornalfloripa&id=22875


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