sexta-feira, 24 de julho de 2009

Música ganha aplausos no trabalho com autismo

Evidência é fraca, mas especialistas dizem que musicoterapia é válida
| Jean Hwang | Washington Post | 3/3/2009 | Pág. HE05 |

Na hora do banho de Janna Simpson, sua mãe muitas vezes canta junto uma musiquinha: "Tomar banho, Tomar banho, Tomar banho..." Judy Simpson cantarola, distraindo a filha dentro da água.

Janna não é um bebê e sua mãe não está cantando à toa. Janna tem 15 anos e autismo. Música, explica Judy, tem sido a chave para envolvê-la em cada atividade diária como tomar um banho; também é uma alternativa a instruções verbais para ajudá-la a superar problemas sociais e comportamentais.

Janna, que nunca desenvolveu a fala normal, recebe musicoterapia formal na Escola Média de Hedgesville, Virginia do Oeste, onde frequenta uma classe para alunos com autismo. Sua mãe, uma ex-musicoterapeuta que é diretora de relações governamentais da Associação Americana de Musicoterapia, sediada em Silver Spring, mantém essa abordagem terapêutica em casa.

- "Latitude, longitude, olhar em um microscópio: essas habilidades não são importantes", diz Judy. "Ela precisa de habilidades básicas para a vida como: escovar os dentes, banhar-se, o relacionamento com pessoas. Essa é uma coisa difícil de se ensinar".

A confiança de Judy na musicoterapia se baseia na sua própria experiência e na de outros pais de crianças autistas que estão ávidos por melhorar as habilidades funcionais de seus filhos. Mas, exatamente como e no que a musicoterapia atua não é bem entendido. Há apenas um ano, uma sessão intitulada "A agenda do autismo" na conferência da Associação Americana de Musicoterapia enfatizou a necessidade de mais pesquisas e prática para basear-se em evidências.

'Olá, Pessoal'

Apesar das informações sobre sua efetividade serem limitadas, fazer música tem sido parte importante de diversos programas para crianças autistas. Leanne Belasco, uma musicoterapeuta da Kennedy Krieger School do Campus do Condado Montgomery campus em Rockville, diz que a música dá estrutura e um ritmo previzível a direções verbais. Quando Belasco toca a cítara para seus alunos, ela canta letras encorajadoras e instrutivas como, "Eu sei que posso; sou um bom escutador" e "Seja flexível".

Na escola, onde todos os 37 alunos de turno integral estão inscritos na musicoterapia, Belasco começa suas sessões de 30 a 45 minutos cantando um refrão: "Alô, todo mundo, agora é hora de música." Ela roda entre os alunos, sentados em ferradura, dirigindo-se a cada um com uma canção. Um deles, de 16 anos, que usa headphones por causa de sua sensibilidade auditiva, responde com evidente prazer, assim como um garoto mais jovem, que toca uma cítara com evidente prazer enquanto balança para a frente e para trás em sua cadeira. Quando Belasco pede que chacoalhem suas maracas azuis, as auxiliares precisam ajudar. Quando um aluno parece sofrer com o exercício, os assistentes o colocam na cadeira.

Apesar dos benefícios associados à música, crianças com autismo enfrentam desafios especiais. "Alguns alunos são sensíveis a sirenes e aspiradores de pó; alguns são sensíveis à música, a certos instrumentos ou à sua freqüência", diz Linda Brandebourg, diretora de serviços do autismo da escola em Kennedy Krieger, de Baltimore. O musicoterapeuta gradualmente facilita estudantes com tais sensibilidades a participar do grupo.

Para alunos de alto funcionamento no espectro autista, a música pode ser uma alternativa criativa, além de que ajuda a regular o comportamento, dizem os terapeutas. Na Rockville's Frost School, para crianças com desordens emocionais que incluem o espectro autista, Donny Toker, da nona série, desfruta da música desde pequeno e agora compõe jazz e rock, que apresenta para a família e na escola. Sua mãe, Nancy Toker, diz que a música o ajuda a se focalizar e alivia a ansiedade e a frustração. "Quando está em um ambiente musical, pode interagir com seus pares, e suas habilidades de conversação são apropriadas", diz Nancy.

Medindo o resultado

Desenvolver estudos para avaliar os benefícios da musicoterapia é um desafio. Petra Kern, professora de musicoterapia na Universidade Estadual de Nova York, em New Paltz, e uma dos organizadoras da conferência Agenda do Autismo, diz que é difícil conduzir pesquisa em autismo usando experimentações aleatórias controladas porque autismo é um espectro e o comportamento varia muito de indivíduo para indivíduo. Ela defende o trablaho tanto quanto possível com grupos de estudos de casos relacionados, para compreender como e porque a musicoterapia funciona.

Catherine Lord, uma professora de psicologia da Universidade de Michigan que se especializou na pesquisa do autismo, explica:

-"Sabemos que o tratamento com musicoterapia está associado com a melhora, mas não sabemos qual é a causa dessa melhora".

Ela diz que estudos sugerindo resultados positivos com a musicoterapia, tipicamente, "não controlam o que se precisa controlar para encontrar o que causa a mudança". Os alunos podem melhorar por causa de fatores como entusiasmo e atenção do terapueta mais do que a própria música.

Catherine explicar que apoiaria o uso da musicoterapia somente se fosse possível mostrar que ajudou a diminuir comportamentos-problema e também se for claramente determinado que os alunos com autismo apreciam a terapia. Para muitas pessoas com autismo faltam formas de entretenimento e relaxamento; assim, fornecer tratamento comportamental efetivo que seja também agradável seria de grande valor, diz.

Mijin Kim, musicoterapeuta do Instituto Beth Abraham, em Nova York, diz que a música pode ser eficaz porque complementa as habilidades cognitivas das pessoas autistas, o que inclui uma forte inclinação para criar padrões.

-"A música é inerentemente estruturada e padronizada", ela diz. "Você pode ver as pessoas com autismo que são hipersensíveis ao som mas responder diferentemente à música, por causa da sua estrutura".

Music Wins Applause for Addressing Autism
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/03/02/AR2009030201759.html

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