terça-feira, 6 de setembro de 2011

USP: Instituição ajuda autista em cognição e sociabilidade

| Sandra O. Monteiro | Agência USP | 31/8/2011 |

Mesmo com melhora cognitiva, social e de linguagem, adolescente mantém o isolamento como base comportamental

Adolescentes autistas quando recebem regularmente atendimento ambulatorial e acompanhamento institucional diário acabam por ter maior possibilidade de desenvolvimento de atos comunicativos vocais, gestos e verbalização. Consequentemente, apresentam melhora na qualidade de vida por adquirirem maior clareza em suas manifestações e maior inserção social. “É possível observar que, mesmo na adolescência, a pessoa com distúrbio do espectro do autismo pode apresentar evolução na linguagem e que os aspectos sociocognitivos, linguagem e socialização estão relacionados também à gravidade do quadro”, descreve a fonoaudióloga Danielle Azarias Defense Netrval que realizou um estudo sobre o tema na Faculdade de Medicina (FM) da USP.

Na pesquisa, Danielle procurou traçar o perfil e desenvolvimento destes jovens, considerando aspectos sociocomunicativos (convivência em sociedade), sociocognitivos (conhecimento sobre o mundo que os cerca) e comportamentais.

A análise envolveu um grupo de 8 adolescentes (de 12 anos completos a 16 anos incompletos) que realizam tratamento integral, multidisciplinar e especializado (de segunda á sexta-feira, das 8 às 17 horas) num centro de vivência em São Paulo e que apresentaram laudo médico (psiquiátrico e/ou neurológico) de distúrbio do espectro do autismo sem outras comorbidades. Os adolescentes foram acompanhados durante seis meses. Danielle relata que “o número pequeno de pacientes estudados foi decorrente da busca de um grupo mais homogêneo”.

Metodologia
Para a coleta de dados foram escolhidos quatro instrumentos de avaliação: dois questionários (Escala Diagnóstica “Autism Behavior Checklist” – ABC e a de Adaptação Sócio – Comunicativa) e dois outros protocolos que foram utilizados para analisar as filmagens de adolescentes (Perfil Funcional da Comunicação e Teste de Desempenho Sócio – Cognitivo).

Os dois questionários foram respondidos por pais e terapeutas. A intenção da Escala ABC foi avaliar os comportamentos e áreas mais afetadas dentro da tríade socialização, cognição e linguagem. Já em relação ao questionário de desempenho sociocomunicativo, a pretensão foi verificar a adaptação sociocomunicativa de cada jovem e determinar em que nível cada um se encontrava. Segundo a pesquisadora, “as duas avaliações foram feitas apenas na primeira coleta da pesquisa devido à alta rotatividade da equipe técnica de profissionais da Instituição e à necessidade de maior familiaridade entre pacientes e terapeutas.”

No estudo longitudinal realizado houve a coleta de dados em três momentos num período de seis meses, sendo feita uma filmagem espontânea de 15 minutos de cada jovem e outra numa situação teste. Estas filmagens correram no intervalo de três meses entre elas.

As filmagens em situações espontâneas foram realizadas no horário de almoço dos adolescentes, buscando manter a situação de coleta o mais natural possível e foram analisadas segundo o protocolo do Perfil Funcional de Comunicação referente à quantidade de atos comunicativos, funções comunicativas e meio comunicativo. Já, na filmagem em situação dirigida (situação teste), foram analisadas a intenção comunicativa, a imitação gestual e vocal, o uso de objetos mediadores e jogos que envolviam combinações e símbolos.

Segundo Danielle, a proposta de o estudo ser longitudinal permitiu que os pacientes fossem avaliados num primeiro momento e acompanhados e reavaliados a cada três meses, nesse período de seis meses, a fim de poder verificar se houve evolução em relação a linguagem e no sociocognitivo.

Resultados
A pesquisa apontou que os adolescentes, quando estimulados, apresentam evolução tanto do número de atos comunicativos quanto na proporção de funções comunicativas interpessoais (relação com o outro). Também foi possível perceber que no desempenho sóciocognitivo na situação espontânea e a relação entre quanto maior número de características do espectro do autismo (maior pontuação no teste ABC), menores eram os escores no desempenho sociocognitivo.

Já as respostas de pais e terapeutas foram muito parecidas. Na escala de pontuação desenvolvida, o grupo demonstrou pior desenvolvimento em linguagem, desenvolvimento pessoal e social, o que determinou maior dificuldade de se relacionar com outras pessoas. A melhor pontuação ocorreu nas áreas sensoriais, de relacionamento, uso do corpo e uso de objetos para a comunicação. De acordo com a pesquisadora, “o melhor desempenho nestas áreas ocorreu devido ao trabalho regular e diário com os jovens dentro da Instituição”.

Ao comparar, Danielle percebeu melhora significativa dos atos comunicativos nos primeiros três meses da pesquisa. Ela diz que “houve tanto o aumento de habilidades quanto o melhor uso de gestos para a comunicação. Na terceira, não houve maior evolução, mas apenas manutenção do que já apreendido.”

“É interessante notar que na fase da adolescência há um aumento do interesse social em jovens com distúrbio do espectro do autismo. Porém, mesmo com a melhora de suas habilidades de linguagem, cognitivas e sociais, eles mantêm o padrão básico de comportamento: o isolamento”, descreve.

A autora também sugeriu que se proponham estudos semelhantes com um número maior de adolescentes para a ampliação dos dados e confirmar ou não os resultados encontrados.

A dissertação de mestrado Estudo longitudinal do perfil funcional da comunicação de adolescentes autistas, foi defendida em 2010, com orientação da professora Fernanda Dreux Miranda Fernandes.

Mais informações:danielledefense@usp.br

Instituição ajuda autista em cognição e sociabilidade
http://www.usp.br/agen/?p=70143

SIS Saúde:
http://www.sissaude.com.br/sis/inicial.php?case=2&idnot=12176

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