quarta-feira, 21 de março de 2012

Vacinas? Sim, obrigado!

| Amazings | Galícia, Espanha | 21/3/2012 |

Celebrando com meus alunos e estudantes do ensino médio 2012, o Ano da Neurociência, assisti ao filme biográfico Temple Grandin, da HBO, dedicado à conhecida cientista norte-americana. Aproveitamos a oportunidade para ler alguns trechos de dois de seus livros publicados em espanhol, Interpretar a los animales, RBA, 2006, (em português, Na língua dos bichos - Ed. Rocco, 2006) e Pensar con imágenes, Alba, 2006 (Thinking in pictures, sem edição brasileira). Então, conversamos sobre o que vimos e lemos. Duas questões se sobressaíram: a primeira, relacionada com a diversidade de formas com que percebemos a realidade. Tendo ainda na mente a palestra Uma viagem ao funcionamento da mente, proferida por Xurxo Mariño como cerimônia de abertura do curso 2011 - 2012 (obrigado, Xurxo), analisamos algumas ilusões de ótica e som.

A segunda questão nasceu a partir da primeira: a condição de autista Temple Grandin foi a razão para sua percepção de si mesma, dos outros e de seu meio ambiente. Como a maioria teve e tem de lidar com pessoas que têm autismo ou síndromes a ele relacionadas (síndrome de Asperger, Tourette...), foi inevitável perguntar sobre suas causas. Navegando pela internet, encontrei algumas explicações, combinações de diversos fatores, poucos comprovados e alguns pressupostos. Mesmo sem aprofundar o nível de importância de todas as explicações, uma deles foi surpreendente: o dedo apontado contra as vacinas e, em particular, a vacina MMR, conhecida como tríplice viral. O próximo passo foi automático: como é possível manter essa vacinação se ela pode ser uma causa do autismo?

Três de uma vez, três fora

A vacina tríplice viral (chamada de MMR para imunizar o destinatário contra a infecção pelos vírus do sarampo, caxumba e rubéola - measles, mumps e rubella, em inglês) começou a ser aplicada (na Espanha) ao final dos anos setenta e, na Galícia, no início dos anos oitenta do século XX. É preferível administrá-la aos dezoito meses de idade, quando os anticorpos desenvolvidos pela mãe desaparecem dos corpos das crianças. Aos quatro ou cinco anos de idade é dada uma segunda dose de reforço (a idade recomendada foi diminuindo, desde 1982 até hoje).

Nós, que somos anteriores a esta prática lembramos com calafrios e pesadelos (pelo menos no meu caso) ter passado pelas febres do sarampo e todo o sofrimento das outras duas doenças. Desde que começou a vacinação MMR ou as vacinas em separado para cada uma dessas doenças, os casos caíram drasticamente. Houve epidemias ocasionais de sarampo, mas a tendência é o desaparecimento virtual das três doenças e o seu esquecimento, no caso do sarampo, das antigas ondas bienais da doença (este seria um ano do sarampo!).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) planejava declarar a Europa uma zona livre de sarampo, mas a verdade é que o número de casos de sarampo aumentou de 2010 a 2011. Como uma erupção cutânea, dia após dia, a imprensa mostra novos casos de doenças evitáveis se fosse seguido corretamente o cronograma de vacinação estabelecido em cada território.

Objeção às vacinas

O conhecido comunicador científico Ben Goldacre, em seu livro Mala ciencia (Paidós Contextos, 2011), dedica um capítulo para a "boataria da mídia sobre a vacina MMR." Um artigo de Andrew Wakefield e colegas, publicado na revista científica The Lancet em 1998 e posteriormente retirado da internet, ligava a administração da tríplice viral ao subsequente desenvolvimento de problemas intestinais e autismo. Uma equivocada divulgação do artigo, direcionada convenientemente para as emoções, a deliberada ausência da publicação de artigos com estudos com "evidências empíricas" de que não há relação entre a vacina e o autismo e a mitificação de Andrew Wakefield, envolveu a formação de grupos de pais se opondo à administração da vacina e à formação de associações para a "liberdade de vacinação". Os motivos concretos alegados para se opor à vacinação ou a algumas vacinas são diferentes: o medo de efeitos colaterais, discordância com a intervenção do Estado na saúde individual, desconfiança em relação aos componentes da vacina, a consideração de que algumas doenças seriam "benignas"... Pessoalmente, só conheço duas dessas situações: uma, relacionada com um medo excepcional de um evento adverso e outra que tem a ver com estilo de vida e crenças próximas (muito próximas) das pseudociências.

Finalmente, o caso de Wakefield e suas antivacinas se revelou uma completa fraude.

A questão da oposição às vacinas ou a livre escolha de vacinar ou não os filhos é comum em redes sociais, em parte devido à propagação na mídia de casos com títulos sensacionalistas (muitas vezes, atenuados nos subtítulos, com o texto contradizendo-os no todo ou em parte) e usados ​​como argumentos pelas ativas organizações antivacinação em seus diferentes graus.

Perante a irracionalidade destas correntes é de se agradecer o trabalho das associações de pensamento crítico, círculos céticos, etc. em seu trabalho de reação (e ação) contra todos os contos e trolagens. Sem essa posição crítica e informativa, o Estado teria dificuldade em organizar um calendário de vacinação único.

Quem quer visualizar uma era pré-vacinas há o impressionante Némesis, de Philip Roth (Mondadori, 2011), este vídeo de Penn e Teller, que foi exibido (na Espanha) pelo programa Amazings, mas é sempre bom rever.

¿Vacunas? Sí, gracias
| Amazings | Galícia, Espanha | 21/3/2012 |

http://amazings.es/2012/03/21/vacunas-si-gracias/


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