sexta-feira, 22 de maio de 2009

Distorções da mídia prejudicam a ciência e o jornalismo

Simon Baron-Cohen - New Scientist, n. 2701 - 27/3/2009
Tradução de Argemiro Garcia


Quando a mídia publica reportagens dizendo que o cientista X ou a Universidade Y descobriram que A está relacionado a B, gostaríamos de ser capazes de acreditar nelas. Infelizmente, como muitos pesquisadores sabem, não podemos.

Isto tem três sérias consequências. Para os iniciantes, sempre que a mídia erra na divulgação da ciência, ela joga fora a credibilidade de ambos. Reportagens erradas podem ainda gerar pânico, quando as pessoas passam a temer consequências adversas das supostas novas relações entre A e B. Finalmente, pode haver um efeito danoso no comportamento dos pesquisadores. Agências financiadoras e instituições científicas encorajam os cientistas a se comunicar com a mídia, a manter o público informado sobre suas pesquisas e assim conseguir mais apoio. Se seus trabalhos são apresentados de forma errada, eles podem preferir ficar nos seus laboratórios em vez de se arriscar a ter de gastar muitas horas pondo as coisas em ordem.

Trabalho numa daquelas sensíveis áreas de pesquisa, o autismo, na qual os fatos são propensos a ser errradamente descritos ou – algumas vezes pior – mal interpretados. Nossos problemas recuam a 1998, com um artigo da revista The Lancet, de Andrew Wakefield e colegas, sobre o que lhes parecia uma relação entre o autismo e a vacina tríplice para sarampo, rubéola e caxumba. Pesquisas posteriores não sustentaram essa associação e assim, dado o grande risco potencial para a saúde pública se aumentasse a ansiedade dos pais a respeito da segurança dessa vacina – mais o fato de que com o tempo a maioria das pessoas pensaria que a mídia tinha errado – eu esperava que os jornalistas que tivessem responsabilidade relutariam em dar grandes coberturas à tal história da vacina-mais-autismo. Eu estava errado. A mídia manteve essa estória viva, apesar do fato de que as evidências que a apoiavam eram, na melhor das hipóteses, fracas ou até claramente contraditórias.

A história vacina-autismo talvez não seja um exemplo de má reportagem por si só mas, sim, de amplificação ou exagero; mesmo assim, seus efeitos têm sido sérios. Pais temerosos dos alegados perigos da vacina levaram a uma queda no número das crianças britânicas vacinadas abaixo do nível necessário para a "imunização de manada", com um consequente aumento perigoso dos casos de sarampo.

O que parece claro é que, para alguns pais de crianças com autismo, essa história lhes dá uma explicação conveniente do porquê seus filhos terem desenvolvido essa condição. Uma minoria se recusa a abandonar essa teoria, não só porque é difícil, se não impossível, desmitificá-la conclusivamente. Esses pais ignoram as contra-evidências e vêem os médicos que, como Wakefield, ainda defendem essa relação, como heróis solitários a brigar com o establishment, enquanto os pesquisadores que não estão fazendo estudos sobre a ligação MMR-autismo fariam parte de uma conspiração para esconder a verdade. Este drama é perfeito para jornais sequiosos de intermináveis histórias constrangedoras.

Minha experiencia pessoal com a má divulgação de pesquisa sobre autismo aconteceu em 12 de janeiro deste ano, quando um dos sérios jornais do Reino Unido, The Guardian, usou sua página principal para publicar uma reportagem sobre nossa novo estudo, editado pela revista British Journal of Psychology. Nosso trabalho mostrava uma correlação positiva entre os níveis da testosterona fetal (medida via amniocentese) e o número de "traços autistas" que a criança mostra após o nascimento. Eles não são necessariamente indicativos de autismo: crianças com autismo têm um alto número deles, mas todas as nossas crianças se desenvolveram "tipicamente" – isto é, elas não têm autismo.

O estudo acompanhou 235 crianças cujos níveis de testosterona fetal eram conhecidos porque foram medidos no líquido amniótico. É importante salientar que essas crianças não tinham autismo e que avaliou-se como eram social e comunicativamente, assim como o quão facilmente podiam mudar o foco de atenção, atentar para pequenos detalhes e gostar de ficção.

Embora os repórteres que escreveram o artigo tenham compreendido o escopo do estudo, isso não impediu os subeditores de redigir um título que erradamente anunciava: "Novas pesquisas trazem teste de autismo mais próximo da realidade", enquanto as linhas a seguir diziam, "Debate ético necessário devido aos testes pré-natais levarem à interrupção da gravidez". A primeira página ainda estampava a foto de um feto - uma imagem emotiva, destinada a prender o interesse de todos: militantes contra o aborto, pais (especialmente aqueles que esperavam filhos) e leitores curiosos sobre o que os cientistas estão fazendo aos bebês nesse estágio vulnerável. O que a legenda dizia? "A descoberta de um alto nível de testosterona em testes prenatais é um indicador de autismo."

Como principal autor do estudo, que nada tinha a ver com identificação de autismo, fiquei muito triste ao ver o título que a reportagem recebeu. A tristeza se tornou um choque, com a afirmativa de que altos níveis de testosterona prenatal seriam capaz de predizer se o feto desenvolverá autismo. Não foram estudados casos diagnosticados de autismo, apenas crianças com desenvolvimento normal. Não se descobriu que altos níveis de testosterona fetal predizem autismo: simplesmente foi descoberta uma correlação entre diferenças individuais nos níveis de hormônios (todos temos testosterona, alguns mais que os outros) e diferenças individuais na sociabilidade, habilidades de comunicação, atenção a detalhes, troca de foco de atenção e interesse em ficção. No jornal, estava errado. Lá, encontrei um artigo elocubrando sobre o estudo e o autismo, com o título "Disorder linked to high levels of testosterone in the womb" (Desordem ligada a altos níveis de testosterona no útero).

As grosseiras distorções nos títulos e legendas das figuras me forçaram a escrever ao jornal - que rapidamente concordou em publicar uma resposta minha. Digo "forçado" por duas razões. Recebemos, no centro de pesquisas, e-mails aflitos de leitores. Alguns se sentiam ofendidos porque a reportagem implicava que nossa pesquisa teria um sinistro propósito eugenista; não tem. Outros vinham de ansiosas mulheres grávidas que queriam ter acesso a este teste prenatal para descobrir se seus fetos desenvolveriam autismo; não existe tal teste.

Sinto que é importante deixar as coisas claras, não apenas porque nossa equipe gastou 10 anos nesse trabalho, com o consentimento das mulheres cujo líquido amniótico foi analisado e cujas crianças foram avaliadas. Definimos pacientemente o estudo para cumprir as severas exigências dos comitês de ética hospitalar. Depois do cuidado que quatro estudantes de PhD tiveram para analisar a delicada questâo de hormônios fetais afetarem ou não a mente e o cérebro, é como levar um tapa na cara ver seu trabalho tratado dessa forma irresponsável e grosseira.

E então, como The Guardian fez isso de forma tão errada? Primeiro, porque os redatores dos títulos foram além dos dados para criar uma mensagem simples, pequena e imprecisa. Segundo, porque fundiram dois assuntos que deveriam ser mantidos separados: o estudo em si, sobre efeitos dos hormônios prenatais em crianças com desenvolvimento típico; e o assunto teste do autismo. Enquanto a jornalista preocupou-se em deixar claro no seu artigo que eram assuntos separados, os redatores dos títulos e legendas ignoraram tais sutilezas e caíram para o sensacionalismo grosseiro.

Depois daquela semana, recebi uma chamada da assessoria de imprensa da Sociedade Britânica de Psicologia, preocupados se seu press release sobre nosso estudo teria levado a esse erro. Reassegurei que eles não tinham feito nada de errado. O assessor de imprensa estava preocupado sobre como outros jornais, revistas e websites tinham repetido os títulos do The Guardian. Também estavam preocupados com que cientistas poderiam negar-se a falar com jornalistas e queriam levar a discussão do assunto na sua revista, The Psychologist.

Isso me pôs a pensar: quem seriam os redatores dos títulos? Artigos e colunas dos jornais são assinados e assim há uma certa responsabilidade quando erram. Neste caso, um anônimo redator de títulos parecia ser o culpado. Teria ele ou ela realmente lido o artigo da jornalista?

Cientistas são fiscalizados por comitês de ética porque podem causar danos ao público. A mídia também tem o mesmo potencial. Deveria haver alguma regulamentação antes-do-evento similar aqui também?

Deveria a mídia ser tão controlada quanto os cientistas, uma vez que também pode causar prejuízos?

Perfil

Simon Baron-Cohen é diretor do Centro de Pesquisa de Autismo (Autism Research Centre) da Universidade de Cambridge. Para seu PhD, trabalhou com a psicóloga Uta Frith na teoria de que o autismo traz dificuldades para entender outras mentes. Ele argumenta que o autismo é uma forma extrema de "cérebro masculino" (A Diferença Essencial, Objetiva, 2004). Seu último livro é Autism and Asperger Syndrome: The facts (OUP).

Media distortion damages both science and journalism
http://www.newscientist.com/article/mg20127011.300-media-distortion-damages-both-science-and-journalism.html

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Europa não está avaliando a gripe suína adequadamente

A Europa pode ter mais casos de gripe suína do que tem sido divulgado. O procedimento adotado pelo países europeus consiste em testar as pessoas com sintomas de gripe apenas se elas estiveram no México, ou em contato com pessoas que visitaram aquele país nos últimos sete dias.

Um leitor britânico da revista New Scientist relata que apresentou sintomas de hripe após ter visitado Nova York em 10 de abril - e não foi testado para o vírus H1N1.

Testes para a gripe suína não estão disponíveis de maneira suficiente.

http://www.newscientist.com/article/mg20227094.400-europe-may-be-blind-to-swine-flu-cases.html
Europe may be blind to swine flu cases

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Teatro no interior - Cachorro Morto

A Viagem Teatral 2009, projeto corporativo do SESI-SP, vem apresentando gratuitamente 13 espetáculos de grupos teatrais profissionais em 13 unidades do interior paulista, desde 26 de fevereiro. Dentre as treze peças selecionadas, destaca-se Cachorro Morto, baseada no livro O Estranho Caso do Cachorro Morto, de Mark Haddon, um romance com clima policial protagonizado por Christopher, um garoto ásperguer que, ao desvendar o mistério da morte do poodle de sua vizinha, descobre muito a seu próprio respeito.







Programação para o mês de maio
9/5/2009 20:00 SESI RIO CLARO
10/5/2009 20:00 SESI RIO CLARO
16/5/2009 20:00 SESI PIRACICABA
17/5/2009 20:00 SESI PIRACICABA
23/5/2009 20:00 SESI ITAPETININGA
24/5/2009 20:00 SESI ITAPETININGA

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Genes do autismo

Reportagem do Jornal do Brasil de 29/4/2009, afirma que cientistas da Universidade da Pensilvânia detectaram pequenas mudanças genéticas que apresentam um forte impacto na probabilidade de um indivíduo desenvolver autismo e condições relacionadas, como a síndrome de Asperger.

De acordo com o estudo, as mudanças influenciam genes que ajudam a formar e manter conexões entre as células do cérebro sendo que uma variante genética, se "reparada", poderia diminuir os casos em até 15%.

O estudo, considerou mais de 10 mil pessoas, buscando no genoma humano as diferenças entre as pessoas com autismo e as neurotípicas.

Todas muitas variantes genéticas encontradas, normalmente associadas ao autismo, apontavam para genes específicos do cromossomo 5, que controla a produção de proteínas que ajudam as células a se manterem juntas e a realizarem as conexões nervosas. Uma variante do gene chamado CDH10 está presente em mais de 65% dos casos

O chefe da equipe, Hakon Hakonarson, reconheceu que a genética por trás do autismo é complexa.

De acordo com Simon Baron-Cohen, psicólogo da Universidade de Cambridge, já foram identificados 133 genes que podem estar ligados à doença, mas são necessários novos estudos para identificar como interagem entre si e com o ambiente externo.

Enviado por Priscilla para a Comunidade Virtual Autismo no Brasil

Identificado gene-chave do autismo
http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/04/29/e290424722.asp

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Garoto autista foge e atravessa os EUA

Depois de roubar o carro e o cartão de crédito do pai, Kenton Weaver, menino aspie de 13 anos de idade, dirigiu por cerca de 35 km até o aeroporto de Boca Raton, na Florida, comprou passagens, tomou um avião que o levou até Chicago, tomou a conexão para a California e foi se encontrar com a mãe, que mora a algumas horas do aeroporto de San Jose, em Fresno, California, trazendo para a vida real o feito de Christopher, o personagem do livro O Estranho Caso do Cachorro Morto.

Kenton adora aviões. O pai tenta minimizar o feito, alegando que o filho fez a viagem pela aventura, e não para se encontrar com a mãe.

Aproveite e veja o vídeo (em inglês):
http://abcnews.go.com/GMA/story?id=7464959&page=1
Autistic Boy Steals Car, Flies Cross-Country

Parlamento português respeita a gente autista

14/4/2009

Em acordo de líderes, o Parlamento Português acolheu pedido do deputado Luís Carloto Marques, do Movimento do Partido da Terra, eleito pelo PSD, e deliberou que as palavras "autismo" e "autista" não mais serão ousadas com sentido pejorativo, nos debates daquela casa.

A questão foi colocada por Ana Martins, 45 anos, escritora com um filho autista, através do twitter, perguntou ao deputado socialista Jorge Seguro, se «os senhores deputados quando se estão a mimosear entre pares seria possível não se denominarem AUTISTAS». Este, por sua vez, encaminhou mensagens a outros parlamentares, sendo Luís Carlotto Marques quem apresentou a proposta ao presidente da Assembleia, tendo sido esta aprovada por unanimidade.

Há três anos, aproximadamente, o Movimento Orgulho Autista Brasil, ainda em gestação, encaminhou ao Congresso Nacional Brasileiro petição no mesmo sentido, tendo sido atendido prontamente. À época, o presidente da Câmara ainda era o deputado Severiano Alves.

Acordo na conferência de líderes - Expressão “autista” será evitada no Parlamento
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1374242

A primeira decisão tomada no Parlamento devido ao Twitter
http://www.tvi24.iol.pt/tecnologia/parlamento-autistas-twitter-palavra-discussao-tvi24/1057863-4069.html

“Autismo” proibido no debate político
http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1201015