Dica enviada por Murilo Queiroz para a comunidade virtual Autismo no Brasil.
Semelhanças entre nós e nossos parentes primatas mais próximos - chimpanzés e bonobos - têm moldado a nossa compreensão do que significa ser humano. A última surpresa é Teco, um jovem bonobo que mostra comportamentos surpreendentemente semelhantes aos associados com o autismo.
Teco é filhote de Kanzi, um bonobo macho de 30 anos cujo uso de símbolos para se comunicar com os seres humanos o tornou famoso (Leia: Has Kanzi the Bonobo Really Learned Language? e If Bonobo Kanzi Can Point as Humans Do, What Other Similarities Can Rearing Reveal?). Os dois moram com outros cinco bonobos no Great Ape Trust, um instituto de pesquisa em Des Moines, Iowa, onde se realiza um estudo de longo prazo sobre a linguagem e cultura dos símios.
Pesquisadores do Instituto notaram que Teco era diferente tão logo nasceu. A maioria dos bebês-macacos reflexivamente agarram a pele da mãe, mas Teco, não. Teve de ser apoiado e carregado para não cair, o que tornou difícil para sua mãe Elikya cuidar dele.
Quando Teco fez 2 meses de idade, Elikya entregou o bebê para sua tia, como se estivesse pedindo ajuda. A tia, Panbanisha, trouxe-o para a equipe do Instituto, que assumiu a responsabilidade de criá-lo.
Foi quando começaram a perceber que ele mostrava vários sintomas de autismo, como: falta de contato visual, a estrita observância de rituais ou rotinas, comportamentos repetitivos e interesse em objetos em vez de contato social.
Um cobertor, por exemplo, tem de ser arranjado logo que Teco fica agitado, diz o diretor William Fields. Teco também mostra movimentos repetitivos semelhantes aos observados em algumas crianças com autismo.
"Ele parece fascinado por partes de objetos, como as rodas e outras coisas, e não teve o desenvolvimento da atenção compartilhada", acrescenta Fields. "O bebê evita o contato com os olhos - como se fosse doloroso para ele."
Nas pessoas, as diferenças nos movimentos dos olhos e no contato ocular são os primeiros sinais de autismo. De acordo com Fields, que estudou esses animais por mais de uma década, o contato visual é ainda mais importante para a comunicação social nos bonobos do que nos seres humanos.
Este mês, outro grupo de pesquisadores relatou que os bonobos têm circuitos neurais mais desenvolvidos do que os chimpanzés, nas partes do cérebro envolvidas com emoção e empatia. Essas regiões do cérebro, como a amígdala, o hipotálamo e o córtex pré-frontal, também apresentam diferenças nas pessoas com autismo.
O trabalho fornece uma espécie de contraponto para a história de Teco: se a estrutura do cérebro social é semelhante em seres humanos e bonobos, não é tão surpreendente que as anomalias sociais possam ser semelhante nas duas espécies também.
A equipe do Great Ape Trust pretende realizar uma análise genética de Teco e os outros seis bonobos na colônia. Eles já começaram o sequenciamento do genoma de Kanzi. Diferenças na sequência do gene ou sua expressão entre Teco e os outros bonobos poderiam ajudar a explicar outros sintomas dele e, talvez, oferecer uma ideia para o autismo em pessoas.
Os pesquisadores também começaram um equivalente bonobo da intervenção precoce, incentivando Teco a usar objetos de uma forma social - para jogar à bola com alguém, por exemplo, ao invés de apenas ficar perdido em examinar a bola consigo mesmo.
Eles também tentam atrair e reter o olhar de Teco, mesmo que isso signifique ficar no chão para que possam olhar para ele. Curiosamente, um dos outros bonobos, Nyota, usa a mesma estratégia de se envolver com o pequeno.
Estas manobras têm melhorado o contato ocular de Teco e seu comportamento social, embora ainda tenha outras características autistas.
"Há momentos em que ele parece completamente normal, e há outros em que fica claro quão diferente ele é", diz Fields, que fala como um pai de uma criança autista. "Ele é encantador e maravilhoso e nós o amamos, mas ele é diferente."
An ape with 'autism'
| Sarah DeWeerdt | Sfari | 15/4/2011 |
https://sfari.org/blog/-/asset_publisher/Jb6r/content/an-ape-with-autism
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Um comentário:
Parabens pelo blog e por essa militancia "especial"!
Fernando Monteiro
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